Conheci pessoalmente Mário Quintana em 1986, em uma tarde de autógrafos do livro Baú de Espantos, na Feira do Livro. Já idoso, ao lado de sua irmã, sentado na mesa, aguardava pacientemente a fila andar até ele. Fomos, com o livro em mãos, ansiosas por um autógrafo. Chegando lá, ele perguntou a minha irmã qual era o seu nome. Sonoramente, ela disse Janaína e, ele, rapidamente, olhou para sua própria irmã e falou assim: não sei por que, mas essa moça não quer me dizer o nome dela... Mas é que ele já não ouvia muito bem e por isso tinha ao seu lado uma pessoa para lhe soprar no ouvido o nome que lhe diziam. Sempre foi um velhinho bem humorado, desses que dá vontade de passar o dia junto. Quintana, diferente do Fernando Pessoa, não foi apresentado para mim por ninguém. Parece que ele nasceu comigo. Sempre fez parte da família, da casa, dos objetos. Guardo um imenso carinho por ele, como se fosse mesmo o meu avô poeta. Ah, esse Quintana.
Dorme ruazinha… É tudo escuro…
E os meus passos, quem é que pode ouvi-los?
Dorme teu sono sossegado e puro,
Com teus lampiões, com teus jardins tranqüilos…
Dorme… Não há ladrões, eu te asseguro…
Nem guardas para acaso perseguí-los…
Na noite alta, como sobre um muro,
As estrelinhas cantam como grilos…
O vento está dormindo na calçada,
O vento enovelou-se como um cão…
Dorme, ruazinha… Não há nada…
Só os meus passos… Mas tão leves são,
Que até parecem, pela madrugada,
Os da minha futura assombração…
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