Se eu tivesse que escolher passar o resto da minha vida com apenas um livro de cabeceira, e se essa escolha precisasse ser hoje...eu saberia. Walt Whitman e sua obra-prima Folhas de Relva seriam meus companheiros até o meu último suspiro. Porque quando toco esse livro, toco uma vida inteira. O livro foi editado cinco vezes e em todas elas houve mudanças. Mas eu ficaria com a primeira, publicada em 1855. Separei um trecho que arranca de mim duas lágrimas, sempre que leio. Nele, vejo o Lucas por inteiro.
Sou o que segue com a suave e crescente noite;
Chamo a terra e o mar semi-abraçados pela noite.
Me abrace, noite de seios nus! Me abrace, noite nutritiva e magnética!
Noite de ventos sul! Noite de poucas e imensas estrelas!
Noite ainda sonolenta! Noite de verão nua e maluca!
Sorria ó terra sensual de hálito fresco!
Terra de árvores sonolentas e líquidas!
Terra de poentes moribundos! Terra de montanhas com picos neblinados!
Terra de vazão vítrea da lua levemente tingida de azul!
Terra de luz e sombra salpicando a correnteza do rio!
Terra do cinza límpido das nuvens ainda mais luminosas e claras por causa de mim!
Terra de cotovelos varrendo longes! Terra rica de macieiras em flor!
Sorria! Seu amante chegou!
Pródiga! você me deu amor!....por isso também lhe dou amor!
Ó amor apaixonado e indizível!
Fincada que me prende com força e que eu prendo com força!
Nos machucamos como um casal de noivos se machuca.
E ah, mar! também me entrego a você....sei o que você quer dizer,
Da praia fico espiando seus dedos curvos e convidativos,
Você se recusa a recuar sem antes me sentir;
Precisamos dar um rolé....tiro a roupa....leve-me logo pra longe da praia,
Me aconchega....me nina em seu cochilo encrespado,
Me salpica com sua umidade amorosa....te pago depois.
Mar dos vastos e tensos vagalhões!
Mar de fôlegos longos e múrmurios convulsivos!
Mar do sal da vida! Mar das tumbas não cavadas e sempre abertas!
Uivante escavador de tempestades! Mar caprichoso e guloso!
Você e eu somos um....também sou de uma e de todas as fases.
Parceiro do influxo e do refluxo....exaltador do ódio e da conciliação,
Exaltador dos amigos e daqueles que dormem nos braços um do outro.
Sou alguém que afirma a simpatia;
Faria uma lista de coisas dentro da casa deixando de fora a casa que as contem?
Sou o poeta do senso-comum e do que é demonstrável e da imortalidade;
Não sou só o poeta da bondade.... não recuso a ser também o poeta da maldade.
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