terça-feira, 6 de julho de 2010

Manoel de Barros

 Manoel de Barros apareceu na minha vida quando já estava na faculdade. Tão bom conhecer novos poetas...Um dia, meu pai que anos antes tinha aberto para mim as portas do poeta português, Fernando Pessoa, me lançava do alto de sua estante um verso novo, totalmente brasileiro, que falava das coisas da nossa terra. Era um olhar para o chão, para as coisas pequenas. Foi paixão à primeira vista. Depois do Manoel, nunca mais fui a mesma. Passei a olhar diferente para a natureza, a ouvir a orquestra dos pássaros a ter vontade de ser água. Manoel de Barros me ensinou a fotografar o silêncio e o vento.

O mundo meu é pequeno, Senhor.
Tem um rio e um pouco de árvores.
Nossa casa foi feita de costas para o rio.
Formigas recortam roseiras da avó.
Nos fundos do quintal há um menino e suas latas
maravilhosas.
Todas as coisas deste lugar já estão comprometidas
com aves.
Aqui, se o horizonte enrubesce um pouco, os
besouros pensam que estão no incêndio.
Quando o rio está começando um peixe,
Ele me coisa
Ele me rã
Ele me árvore.
De tarde um velho tocará sua flauta para inverter
os ocasos.

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