terça-feira, 27 de julho de 2010

homem santo, Charles Bukowski

neste bairro
umas 4 quadras ao norte
e 2 ao sul
tem uma pequena casa
pintura descascando
e
mato crescendo
no jardim
da frente

e
ao redor desta
casa
tem
outras casas
com
gramados verdes
impecáveis
canteiros enfeitados
de flores
e
carros polidos
ocupando
a entrada da garagem.

"eu gosto desse
cara", digo pra minha mulher.
"gostaria mesmo de
 vê-lo, sabe, ver
como é que ele se
parece".

"eu já o vi",
diz minha mulher.

"ah é? sim? como?
quando?"

"duas vezes. e nas duas
foi a mesma coisa. ele
estava sentado na
sua janela e
estava com seu chapéu
baixado
sobre os olhos."

"lindo", digo.
"lindo".

quando saio dirigindo
continuo passando por lá
esperando
vê-lo
por mim mesmo
mas
nunca o vejo.
de qualquer modo,
para mim
ele é a salvação
deste bairro.

é quando as pessoas
são
todas iguais
que
tudo ganha nome e perde o sentido

e aqui está
este santo
sem um nome.

Nenhum comentário: