quinta-feira, 29 de julho de 2010

Desdém, Florbela Espanca

Andas dum lado pro outro
Pela rua passeando;
Finges que não queres ver
Mas sempre me vais olhando.

É um olhar fugidio,
Olhar que dura um instante,
Mas deixa um rasto d'estrelas
O doce olhar saltitante...

É esse rasto bendito
Que atroiçoa o teu olhar,
Pois é tão leve e fugaz
Que eu nem o sinto passar!

Quem tem uns olhos assim
E quer fingir o desdém,
Não pode nem um instante
Olhar os olhos d'alguém...

Por isso vai caminhando...
E se queres a muita gente
Demonstrar que me desprezas
Olha os meus olhos de frente!...

Escrito em 18/7/1816 e tão moderno.

Um comentário:

Ana Flores disse...

cansei de ser moderno, quero ser eterno. disse o picasso.