terça-feira, 31 de agosto de 2010

Gato mochileiro

Um casal francês que está caminhando pelo mundo “foi adotado” por uma linda gatinha que ao que tudo indica compartilha com os novos donos o mesmo prazer pela aventura. Kitty foi encontrada no meio da estrada na Louisiana e nunca mais deixou Laetitia e Guillaume. Com 4 meses e meio faz parte da família desde o primeiro mês de vida quando mal enxergava.  Muito inteligente fica na mochila sem coleira e salta de um saco para outro enquanto a dupla caminha. Ela nunca cai e quando se sente em perigo volta para um dos sacos. Muitas vezes caminha ao lado e imita o som de um corvo quando vê um! Kitty é vacinada e tem passaporte para voltar para França no final dessa grande aventura. Certamente é a primeira gatinha do mundo a caminhar 15.000 km! 


Dose dupla

Fazendo as pazes comigo e com você.

Um dia de paz

Com a promessa de um dia de paz. A manhã logo se encheu da nossa presença. O momento esperado, a palavra certa. A tarde foi cinzenta como tinha de ser. Afinal, faltava acertar os ponteiros das horas. E ainda falta...definir os minutos. Mas tudo bem. Cada coisa a seu tempo tem seu tempo. Vamos assim colocando a casa no lugar. Não no mesmo lugar que esteve tanto tempo. Um outro lugar, mais arejado, mais aberto, renovado. Sem nenhuma porta travada, sem nenhum quarto escuro. Tudo às claras, ensolarado, ventilado. A nossa casa voltando a ser habitada de nós. E eu esperando o vento soprar e varrer as últimas folhas secas do inverno que passou.

Pújá, a força da gratidão


O pújá em si é algo espontâneo, um comportamento inato e instintivo de gratidão, reverência e lealdade. Encontra-se presente no âmago de cada ser humano e remonta a tempos imemoriais de todos os lugares do planeta.

Tal gratidão  é uma atitude universal, observada no cotidiano sob as mais variadas manifestações culturais, sejam filosóficas, artísticas, cívicas, políticas, religiosas ou científicas.

Para exemplificar, classificamos como pújá: uma criança oferecendo espontanemente uma maçã à sua professora antes da aula; um estudante homenageando  os pais ao concluir a faculdade; um soldado honrando o seu país ao hastear a bandeira; um discípulo reverenciando e defendendo o seu Mestre e a sua linhagem, entre os outros. Para ser designado como pújá, é preciso haver um sentido hierarquicamente ascendente: parte do aluno ao professor, do filho aos pais, do devoto à divindade, do discípulo ao Mestre. Jamais o contrário.

A intenção por trás do ato é outra relevante característica dessa prática. Significa agir com abnegação e sem esperar retorno, motivado pela satisfação de agradecer, honrar, servir e doar-se. Tudo isso são diferentes formas para demonstrar a generosidade da nossa raça, virtude que nos permite viver e evoluir em sociedade.

(trecho do livro A força da gratidão, do Sérgio Santos)

domingo, 29 de agosto de 2010

Amizade


Depois de algumas horas conversando com uma antiga e recente amiga, (sabe quando você conhece alguém que vai ser sua amiga em breve e só não é ainda por uma questão de tempo?) ela me fez descobrir tantas coisas legais, tantas coisas que me fizeram pensar diferente! Saí mais leve, mais feliz, mais forte. Descobri que as coisas são menores do que parecem ser e que sou maior do que imagino que sou. Nada como um café, uma torta holandesa e uma pessoa incrível do nosso lado pra mudar a visão que temos sobre a vida.

Coco Chanel & Igor Stravinsky


Um filme colorido em preto e branco. Especial para sentir Paris nos anos vinte, sua arquitetura art noveau e os sons da cidade marcados pelos motores dos carros da época. Importante para conhecer a personalidade forte de Chanel e as fragilidades de Stravinsky. Imperdível pelas roupas da Chanel que continuam modernas até hoje. Comovente na primeira cena em que Coco aparece nua depois de abrir delicadamente sua única peça de roupa. Irritante nos concertos do Stravinsky. Teatral demais nos diálogos. Decepcionante no resultado final.

Fernando Pessoa

Como é por dentro outra pessoa?
Quem é que o saberá sonhar?
A alma de outrem é outro universo
Com quem não há comunicação possível,
Com quem não há verdadeiro entendimento.
Nada sabemos da alma
Senão da nossa,
As dos outros são olhares,
São gestos, são palavras,
Com a suposição de qualquer semelhança
No fundo.

Vida moderna


Por uma ideia do meu pai, saímos da minha casa em Caxias em direção a Porto Alegre por uma estrada que passa por Galópolis, Nova Petrópolis, Morro Reuter e Novo Hamburgo. Um pouco mais longe, um pouco mais lenta, com muito mais curvas, menos possibilidades de ultrapassagem...mas com uma paisagem que lembra a floresta da Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, com os morros da Toscana, na Itália. Muito mais linda! Nesse outro caminho, paramos para comprar pinhão cozido e abacates numa banca na beira da estrada com um senhor muito simpático que posou pra foto e ainda nos disse: depois, traz a foto pra mim, mas não esquece, tá? Cortou nosso coração ao meio, pois sem dizer nada um ao outro, sabíamos que isso não ia acontecer. É muito mais provável que a foto percorra o espaço pela internet, chegando a pessoas de outros países, do que retorne a ele. Esses outros caminhos que nos fazem conhecer um velhinho tão distante de nós, é a vida que levamos, é a vida moderna...

as paredes da casa do meu pai

Ruth Schneider

Volpi

Vilaró

Vieira da Cunha

Baril

Giacomin e Bez Batti

Marcelo Hubner

Giacomin

Manezinho Araújo
Bea Balen

sábado, 28 de agosto de 2010

Pedaços seus

olho meus pés
mais vezes
do que miro
o céu de ruas

desvio o olhar
pelas costelas
aparentes
e nos seios
que suaves
despontam
na pele molhada

curvo levemente
os ombros
pra frente
deixando as mãos
vazias
em contato
com a água
que em gotas
escorrem 
como pedaços
seus
caindo
no chão

lavados
de mim

Presente Cotidiano, Luiz Melodia


Momentos são momentos, drama
O corpo é natural da cama

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

E é só

Quero ver 
o fundo
do lago

Pois há um querer
em não existir 
logo ali

A chuva molha 
meus cabelos 
de sei lá

e tudo o que é 
passado 
vem passear 

nos meus fios 
de pensamentos

Já não tenho ideias
tenho emoções
estou farta delas

e tudo some 

esqueço um tanto de mim
esqueço um pouco de viver

e no meio do dia
lembro que tenho saudades 
de quem está do meu lado

essa tristeza que me invade
que me tira o dia da noite 
resiste

as músicas parecem 
todas tristes 

por que as ouço 
pela paisagem 
de dentro

e é só
que me sinto

Enoitecidos, César Azevedo

Fechou a sacada
E me vestiu de rua

Do lado de dentro

não havia mais lua

Do lado de fora

não havia mais nada

Quero matar



Descobri essa frase, que compartilho com você, no blog da Letícia Braga. Acesse e leia outras coisas interessantes: http://www.leticiabraga.com

Noronha

Na minha vida.

Me encontro em você

A chuva cai em finas gotas. A casa aquecida pelas luzes quentes me protege da rua. A sua voz ao telefone é qualquer coisa que me anima a sair. Entro no carro na direção da sua casa enquanto a noite não se torna madrugada. O caminho é longo demais para os meus sonhos. Descanso os olhos nos carros que passam como se eu não passasse por eles. Uma sensação de invisibilidade toma conta de mim e continuo me demorando nas sinaleiras, nas curvas, nas janelas iluminadas. Estou a um passo de me encontrar em você e uma louca sensação de medo me desacelera. Ao mesmo tempo, procuro esquecer o dia de ontem, a tarde úmida, o abraço mal feito. E só então me dou conta de que nada pode ser esquecido. Acrescento essa lembrança em mim mais uma vez até parar o carro. E já não preciso de motivo algum pra te rever, basta eu entrar e me perder em  vo cê porque ainda não é madrugada, porque ainda tenho em quem me encontrar...

Mordida

De repente

Djavan me cantou.

Não me fales de amor, Charles Kiefer


Não me fales de amor, essa ilusão
de tolos incientes que desconhecem
o poder da carne e que à luxúria

creditar precisam guirlandas de flores
e véus esbranquiçados. Não sabem,
estes tolos, que o amor acaba como

o lenho lambido pela chama, e não há
maneira de sustentá-lo aceso?
A carne não, a carne é bem mais forte

e resiste intacta por diversos anos.
Depois, adiante, a carne, sim, fenece,
mas antes, antes há de ser prece

no altar do gozo, e goza o amante
o puro instante, enquanto não chega
a hora vil do abate.

Não me fales de amor, essa tolice
de adolescente, que a confundir
desejo e ágape, se perde em círculos

de cão a mordiscar a própria cauda,
a confundir no espelho de outra
face a própria face imberbe.

O amor não desce à alma, só flutua
na terrível derrisão e movimento
incessante do rio do ser em eterno

movimento; o amor não tece futuro
nem esperança e não sabe construir
pontes entre dois seres diferentes;

o amor não basta nem a si mesmo
e não padece às conjuras dos velhos
feiticeiros; o amor verdadeiro é só

o do erasta, que ama no amante
tão somente o corpo desvalido.
Não me fales de amor, esse balido.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Pessoa e Pessoas


Elliot

Escrevo para me livrar da emoção.

Casa Verde


Paredes doidas de verde
Bambus mambos em sol

Musgos
escuros
dilúvios

Lavadeira levada de sós
Lamentos de vida lavada

Trapos
restos
vazios

Bichos fartos de pó
Janelas abertas em flor

Laços
tenros
vícios

Gente coberta de nós
Palavras repletas de dós

Gritos
velhos
gemidos

Saudades

A Júlia me fez saudade de Madri.


Os pequenos fins, Ana Flores


Através dos pequenos fins, a vida nos prepara para o fim da vida durante a vida toda. Os dias morrem quando chegam no fim. As noites também. Estrelas morrem. Relacionamentos de muitos anos terminam. Relacionamentos de poucos dias também terminam. E os relacionamentos que estão se iniciando hoje também terminarão um dia. Fim da tristeza. Fim da alegria. The end, o filme terminou. Fim da viagem, hora de voltar para casa. Pessoas partem. O amor termina. A paciência acaba. A copa do mundo terminou. Fim de festa. O final da música. A última página de um livro. A última gota de tinta na tela. Tudo tem um fim. Os olhos que se fecham. O acordar. Fim do sonho. Fim da barra de chocolate. Fim da dúvida. Fim de tudo. Todas as coisas começam para terminar um dia.

(Só a Sagrada Familia de Gaudí que não termina nunca.)

Deixa, Cibelle


Deixa o tempo passar.

O fim

O fim é o começo de outra coisa.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Chuva


o dia me chorou.

Você e eu

Deito na cama primeiro. Conheço seus rituais antes de dormir. Com as costas viradas para a porta, escuto os sons dos teus passos pela casa, procurando uma garrafa de água que ficará do seu lado até o amanhecer. Depois de tantos anos, você ainda me pergunta por ela. Estende o braço para colocar a água no chão, do seu lado da cama, e deita, procurando minhas pernas para se encaixar nelas. Ainda escuto as buzinas dos carros resultado de um jogo que não vi. O vizinho do andar de cima caminha pela casa, arrasta alguns móveis e deixa o televisor ligado, pois posso ouvir uma voz abafada falar sem parar. Meu corpo me comunica o dia que tive e a noite que terei. O barulho dos torcedores começa a ficar cada vez mais longe e espassado. Logo não se ouvirá mais nada. Você ainda se levanta mais uma vez para ter certeza de que o vidro da janela está fechado. Fecha complementamente a persiana, como sempre faz. Para você conseguir dormir só estando num escuro profundo. O cachorro no chão revira seus pratos de água e comida e nos faz rir por breves instantes. Viramos de lado, você e eu. A cama está quente, aquecida pelo lençol térmico. Uma de nossas pernas está estendida e se tocam. A sua outra perna, flexionada, está por cima de mim e se encaixa na minha outra perna também flexionada. Seu braço me abraça pela frente e sua mão direita segura meu seio esquerdo. Paramos por alguns instantes. O silêncio dos nossos corpos faz com que possamos sentir o calor que agora emana de nós. Começamos a ficar quentes demais. A sua pele úmida se cola à minha. Você me pergunta se desligamos o lençol térmico e respondo que sim. Sugiro que mudemos de posição, mas você não quer. Gosta que estejamos assim. Então nos mantemos agarrados, mas nos deslocamos para o seu lado da cama. Já não escuto buzinas. Você se mexe mais um pouco para cessar alguma coceira pelo corpo. Seus quadris se mexem de encontro aos meus. Mas sabemos que vamos permanecer imóveis ainda por um tempo. Você logo dorme e eu fico com os olhos fechados, nossas pernas mornas, sua mão no meu seio. Perco a noção do tempo. Acordo com a luz do meu computador acesa, pulsando nos meus olhos. O seu celular apita avisando a chegada de uma mensagem. Já é tarde, eu sei. Depois disso, o seu celular também começa a piscar. Agora são duas luzes, intermitentes, uma branca e outra vermelha, que iluminam o quarto a cada segundo. Você não faz menção de acordar e as luzes não param. Tento me mexer um pouco e ver se você acorda e faz o seu celular silenciar. É como se uma outra realidade quisesse entrar na nossa, insistente. Mas a realidade é só uma. Por fim, você também desperta. Aviso que o seu celular pisca sem parar, como se fosse ele que sozinho se fizesse presente. Um ser vivo, talvez. Levanto para virar o meu computador para a parede. Você olha a tela do celular que ilumina o seu rosto e logo pousa ele no mesmo lugar. Vou em direção ao banheiro, mas retorno para proteger os pés. Você está com o celular novamente nas mãos, como se quisesse ter certeza do que acontece com ele. Quando volto, meu corpo já não reclama tanto como antes. Voltamos a nos encaixar. Dessa vez, nossos corpos quentes já não se saciam com apenas o toque de um no outro. Passamos a roçar nossas peles, nossas mãos, nossas bocas. O quarto escuro faz com que eu imagine nossos corpos no espaço como se acendesse uma luz de repente. Parte do seu corpo entra no meu. Ainda mais quente do que suas mãos que tocam a mim como se fosse um instrumento. Me deixo levar por essa sensação e danço ao som da música gerada pelo seu toque em mim. Minhas pernas se abrem ainda mais. Nos aproximamos ainda mais. É como se quiséssemos entrar no espaço um do outro. É como se tentássemos ser um o corpo do outro. Aproximo minhas pernas que você segura. Estamos ambos deitados, embalados pela preguiça da hora, pelo escuro da noite. Meus pés se aproximam do seu rosto, sua pélvis me toca plenamente. Falo algumas coisas. Você também. Você desce, me beijando toda, até parar onde antes seu corpo entrava no meu. E aí fica até eu não aguentar mais, até lançar na sua boca meus líquidos, meus versos. Você sorve tudo enquanto meu corpo em espasmo se dilata na cama. Faço o mesmo com você que de repente se derrama sobre mim. Voltamos a deitar, encaixados, imóveis até que o sono nos leve para outro lugar. Você logo dorme e seus músculos acordam. Sua mão segura firme na minha como se quissese dizer qualquer coisa. Durmo também. Acordo outras vezes inflamada. A camiseta e os cabelos molhados. Você continua a se mexer. Paramos novamente. Sempre uma parte do meu corpo tocando o seu. Penso que a única coisa que existe é esse momento. Nada nem ninguém existe além de nós nesse quarto. Tenho vontade de estender esse momento até o infinito. E faço isso através da palavra.

A felicidade, Into the Wild


A felicidade só é real quando compartilhada.

Para ser grande, Ricardo Reis


Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive.

Certeza


Vou continuar existindo.

Roda Viva, Chico Buarque


Tem dias que a gente se sente
Como quem partiu ou morreu
A gente estancou de repente
Ou foi o mundo então que cresceu...