Acenderam os grilos e os latidos baldios
Puxaram as vestes que a lua encobria
Dos olhares horizontes e dos amores pios
No teto zincado e rarefeito de poesia
Os garis soturnos baixaram a cabeça e varreram
Varreram a sujeira que andava pelas esquinas e ruas
Só não varreram a poeira que cobria os ouvidos da noite
Maltratados pela turba do dia
Chamaram os figurantes, cabisbaixos e sombrios
Trouxeram os amantes, os otários e os falsários
Encheram a rua de medos, de ódios e de estranhezas
Tiraram de cena os estetas, as poetas e os poetas
O jantar foi servido nas latas vazias
A água jorrou das poças para as bocas
E a sarjeta serviu para moços e moças
Olharem o trapezista que da freguesia
Fugia.
Para a porta dos fundos
E dos fundos para mais fundo
Ainda.
A platéia distante, nas galerias,
Sentada em poltronas macias
Ria dos enganados e dos dramas
E quando o equilibrista,
Entre os goles da bebida,
Tragou de uma vez três vidas...
O público reagiu, levantou, brandiu
Mas nada foi feito e na noite que se seguiu
Mais vidas desavisadas ganharam a brevidade,
Mais uma vez, nos palcos da minha velha cidade
2 comentários:
ler um texto como esse já faz a vida valer a pena.
ana, que saudadessssss.
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