Não se afobe, não
Que nada é pra já
O amor não tem pressa
Ele pode esperar em silêncio
Num fundo de armário
Na posta-restante
Milênios, milênios
No ar
Os textos publicados não terão a ordem dos livros nem tampouco dos dicionários. Virão da desordem da vida, do improviso das águas, das impressões sobre qualquer coisa. Tudo que carregue o mistério de ser letra, verso, prosa. A única lógica será não ter lógica nenhuma. Pode ser que sirva, pode ser que exista, pode ser que dê. Quem sabe?
segunda-feira, 31 de maio de 2010
sábado, 29 de maio de 2010
quinta-feira, 27 de maio de 2010
One Art, Elisabeth Bishop
(Tradução de Paulo Henriques Britto)
A arte de perder não é nenhum mistério;
tantas coisas contêm em si o acidente
de perdê-las, que perder não é nada sério.
Perca um pouquinho a cada dia. Aceite, austero,
a chave perdida, a hora gasta bestamente.
A arte de perder não é nenhum mistério.
Depois perca mais rápido, com mais critério:
lugares, nomes, a escala subseqüente
da viagem não feita. Nada disso é sério.
Perdi o relógio de mamãe. Ah! E nem quero
lembrar a perda de três casas excelentes.
A arte de perder não é nenhum mistério.
Perdi duas cidades lindas. E um império
que era meu, dois rios, e mais um continente.
tenho saudade deles. Mas não é nada sério.
— Mesmo perder você (a voz, o riso etéreo
que eu amo) não muda nada. Pois é evidente
que a arte de perder não chega a ser mistério
por muito que pareça (Escreve!) muito sério.
The art of losing isn’t hard to master;
so many things seem filled with the intent
to be lost that their loss is no disaster.
Lose something every day. Accept the fluster
of lost door keys, the hour badly spent.
The art of losing isn’t hard to master.
Then practice losing farther, losing faster:
places, and names, and where it was you meant
to travel. None of these will bring disaster.
I lost my mother’s watch. And look! my last, or
next-to-last, of three loved houses went.
The art of losing isn’t hard to master.
I lost two cities, lovely ones. And, vaster,
some realms I owned, two rivers, a continent.
I miss them, but it wasn’t a disaster.
— Even losing you (the joking voice, a gesture
I love) I shan’t have lied. It’s evident
the art of losing’s not too hard to master
though it may look like (Write it!) like disaster.
A arte de perder não é nenhum mistério;
tantas coisas contêm em si o acidente
de perdê-las, que perder não é nada sério.
Perca um pouquinho a cada dia. Aceite, austero,
a chave perdida, a hora gasta bestamente.
A arte de perder não é nenhum mistério.
Depois perca mais rápido, com mais critério:
lugares, nomes, a escala subseqüente
da viagem não feita. Nada disso é sério.
Perdi o relógio de mamãe. Ah! E nem quero
lembrar a perda de três casas excelentes.
A arte de perder não é nenhum mistério.
Perdi duas cidades lindas. E um império
que era meu, dois rios, e mais um continente.
tenho saudade deles. Mas não é nada sério.
— Mesmo perder você (a voz, o riso etéreo
que eu amo) não muda nada. Pois é evidente
que a arte de perder não chega a ser mistério
por muito que pareça (Escreve!) muito sério.
The art of losing isn’t hard to master;
so many things seem filled with the intent
to be lost that their loss is no disaster.
Lose something every day. Accept the fluster
of lost door keys, the hour badly spent.
The art of losing isn’t hard to master.
Then practice losing farther, losing faster:
places, and names, and where it was you meant
to travel. None of these will bring disaster.
I lost my mother’s watch. And look! my last, or
next-to-last, of three loved houses went.
The art of losing isn’t hard to master.
I lost two cities, lovely ones. And, vaster,
some realms I owned, two rivers, a continent.
I miss them, but it wasn’t a disaster.
— Even losing you (the joking voice, a gesture
I love) I shan’t have lied. It’s evident
the art of losing’s not too hard to master
though it may look like (Write it!) like disaster.
Só, Luiz Melodia
Tava naquela que dá dó
Olhando a lua andar só
Gota de chuva, nota dó
Sinto o tempo descontente ao redor
Como o puro alimento dessa horta
Mesmo se tudo juntar por aí
Em nós, o só há de sempre existir
Saramago
...o tempo é um mestre-de-cerimônias que sempre acaba por nos pôr no lugar que nos compete, vamos avançando, parando e recuando às ordens dele, o nosso erro é imaginar que podemos trocar-lhe as voltas.
quarta-feira, 26 de maio de 2010
Tanta saudade, Djavan
Era tanta saudade, é pra matar
Eu fiquei até doente, eu fiquei até doente menina
Se eu não mato a saudade, é "deixa estar"
Saudade mata a gente, saudade mata a gente menina
Quis saber o que é o desejo, de onde ele vem
Fui até o centro da Terra e é mais além
Procurei uma saída e amor não tem
Estava ficando louco, louco, louco de querer bem
Quis chegar até o limite de uma paixão
Baldear o oceano com a minha mão
Encontrar o sal da vida e a solidão
Esgotar o apetite, todo o apetite do coração
Mas voltou a saudade
É pra ficar, aí eu encarei de frente
Aí eu encarei de frente, menina
Se eu ficar na saudade, é "deixa estar"
Saudade engole a gente, saudade engole a gente menina
Quis saber o que é .... apetite do coração
Ai amor, miragem minha, minha linha do horizonte
É monte atrás de monte é monte
A fonte nunca mais que seca, ai saudade ainda sou moço
Aquele poço não tem fundo, é um mundo e dentro é um mundo
e dentro é um mundo e dentro
É o mundo que me leva
Eu fiquei até doente, eu fiquei até doente menina
Se eu não mato a saudade, é "deixa estar"
Saudade mata a gente, saudade mata a gente menina
Quis saber o que é o desejo, de onde ele vem
Fui até o centro da Terra e é mais além
Procurei uma saída e amor não tem
Estava ficando louco, louco, louco de querer bem
Quis chegar até o limite de uma paixão
Baldear o oceano com a minha mão
Encontrar o sal da vida e a solidão
Esgotar o apetite, todo o apetite do coração
Mas voltou a saudade
É pra ficar, aí eu encarei de frente
Aí eu encarei de frente, menina
Se eu ficar na saudade, é "deixa estar"
Saudade engole a gente, saudade engole a gente menina
Quis saber o que é .... apetite do coração
Ai amor, miragem minha, minha linha do horizonte
É monte atrás de monte é monte
A fonte nunca mais que seca, ai saudade ainda sou moço
Aquele poço não tem fundo, é um mundo e dentro é um mundo
e dentro é um mundo e dentro
É o mundo que me leva
Todo sentimento, Chico Buarque
Preciso não dormir
Até se consumar
O tempo da gente.
Preciso conduzir
Um tempo de te amar,
Te amando devagar e urgentemente.
Pretendo descobrir
No último momento
Um tempo que refaz o que desfez,
Que recolhe todo sentimento
E bota no corpo uma outra vez.
Prometo te querer
Até o amor cair
Doente, doente...
Prefiro, então, partir
A tempo de poder
A gente se desvencilhar da gente.
Depois de te perder,
Te encontro, com certeza,
Talvez num tempo da delicadeza,
Onde não diremos nada;
Nada aconteceu.
Apenas seguirei
Como encantado ao lado teu.
Até se consumar
O tempo da gente.
Preciso conduzir
Um tempo de te amar,
Te amando devagar e urgentemente.
Pretendo descobrir
No último momento
Um tempo que refaz o que desfez,
Que recolhe todo sentimento
E bota no corpo uma outra vez.
Prometo te querer
Até o amor cair
Doente, doente...
Prefiro, então, partir
A tempo de poder
A gente se desvencilhar da gente.
Depois de te perder,
Te encontro, com certeza,
Talvez num tempo da delicadeza,
Onde não diremos nada;
Nada aconteceu.
Apenas seguirei
Como encantado ao lado teu.
terça-feira, 25 de maio de 2010
À espera do grande engarrafamento, Charles Kiefer
Hoje, ao abrir a caixa postal do Refúgio, escritório em que me escondo para escrever, encontrei quatro faturas atrasadas de conta de luz. O que significa que há mais de quatro meses não escrevo nada.
Crise. Uma profunda "crise escritural". Já recolhi meu romance da editora, não quero mais publicá-lo, já decidi "dar um tempo" a mim mesmo, para examinar em que encruzilhada tomei a via errada. "Dar um tempo", na linguagem eufemística dos amantes é "sair de fininho", "deixar que as coisas se auto-destruam".
Ou será uma grande desilusão com a própria literatura, o que me aflige?
O argumento da falta de tempo é pífio, auto-enganador. Escrevi meus melhores romances e contos em épocas em que trabalhava dezesseis horas por dia. Escrevia aos domingos, de madrugada. em estações rodoviárias, dentro de ônibus e aviões, à mão, sem as facilidade eletrônicas que tenho hoje.
Não. Falta de tempo não é desculpa. É falta de fé. Em mim, na função da literatura, na humanidade.
Antes, como dizia o Sergio Faraco, eu escrevia com a sensação de que ia salvar alguém. Hoje, vejo que não há mais ninguém a ser salvo. Estão todos confortáveis, domesticados e bovinamente felizes. O petróleo jorra do fundo do mar, devastando a vida marinha, e ninguém se espanta, ninguém clama. Há trinta anos, havia gente que se acorrentava às árvores, para que não fossem derrubadas. Onde eles estão? Onde estamos? O que houve conosco? Fomos abduzidos? Ou a caverna platônica se expandiu tanto que tomou conta do planeta?
A solução talvez esteja num imenso engarrafamento, um engarrafamento de proporções apocalípticas, como aquele do conto de Julio Cortázar. Parados na Ipiranga, Sertório, Independência e Farrapos, talvez tenhamos tempo de refletir. Talvez uma saudável epifania nos acolha no meio do congestionamento.
Decisão tomada. Vou andar com o laptop no carro. Quando a cidade parar, sintonizarei a Rádio Universidade, e, entre um e outro acorde de Brahms ou Mozart, talvez eu volte a fingir que sou escritor.
Texto extraído do blog do escritor: charleskiefer.blogspot.com
Crise. Uma profunda "crise escritural". Já recolhi meu romance da editora, não quero mais publicá-lo, já decidi "dar um tempo" a mim mesmo, para examinar em que encruzilhada tomei a via errada. "Dar um tempo", na linguagem eufemística dos amantes é "sair de fininho", "deixar que as coisas se auto-destruam".
Ou será uma grande desilusão com a própria literatura, o que me aflige?
O argumento da falta de tempo é pífio, auto-enganador. Escrevi meus melhores romances e contos em épocas em que trabalhava dezesseis horas por dia. Escrevia aos domingos, de madrugada. em estações rodoviárias, dentro de ônibus e aviões, à mão, sem as facilidade eletrônicas que tenho hoje.
Não. Falta de tempo não é desculpa. É falta de fé. Em mim, na função da literatura, na humanidade.
Antes, como dizia o Sergio Faraco, eu escrevia com a sensação de que ia salvar alguém. Hoje, vejo que não há mais ninguém a ser salvo. Estão todos confortáveis, domesticados e bovinamente felizes. O petróleo jorra do fundo do mar, devastando a vida marinha, e ninguém se espanta, ninguém clama. Há trinta anos, havia gente que se acorrentava às árvores, para que não fossem derrubadas. Onde eles estão? Onde estamos? O que houve conosco? Fomos abduzidos? Ou a caverna platônica se expandiu tanto que tomou conta do planeta?
A solução talvez esteja num imenso engarrafamento, um engarrafamento de proporções apocalípticas, como aquele do conto de Julio Cortázar. Parados na Ipiranga, Sertório, Independência e Farrapos, talvez tenhamos tempo de refletir. Talvez uma saudável epifania nos acolha no meio do congestionamento.
Decisão tomada. Vou andar com o laptop no carro. Quando a cidade parar, sintonizarei a Rádio Universidade, e, entre um e outro acorde de Brahms ou Mozart, talvez eu volte a fingir que sou escritor.
Texto extraído do blog do escritor: charleskiefer.blogspot.com
Coisas que a vida me ensinou (Quanto menos eu perder, melhor), DeRose
Algumas pessoas (a maioria) quando perdem alguma coisa ficam tão descontroladas que acabam piorando o que já estava ruim. Meu vizinho no Rio de Janeiro já tinha perdido algum dinheiro num assalto. Não satisfeito, quando os assaltantes foram embora ele saiu correndo atrás. Balanço da atitude descontrolada: perdeu também a vida.
Uma conhecida perdeu o namorado para outra sirigaita. Não satisfeita com a perda, foi tomar satisfações à sedutora. “Ah! Não vou deixar isso barato, não!” É, barato não saiu. Tomou uma surra da outra. Agora, perdera o namorado, o relógio, o vestido que ficou inutilizado e a reputação. Nenhum mancebo quis mais se aproximar dela. “É daquelas que fazem escândalo…”, diziam.
Minha filosofia a respeito é: se me atrasei e já perdi o avião, não vou agora perder também a calma, a saúde e a classe.
Não sei, não importa, vou dizer
não sei em qual parte dessa estrada
nós estamos
nós estamos
Você vai dizer que o melhor é nem saber
até a gente reconhecer
Começo, caminho, chegada ou retorno:
não importa em qual parte dessa estrada
nós estamos
Você vai dizer que o melhor é só viver
até a gente perceber
Mas o mais importante vou lhe dizer
vou te amar até nem ser
Eu não existo sem você, Tom e Vinícius e Naiana...
Eu sei e você sabe, já que a vida quis assim
Que nada nesse mundo levará você de mim
Eu sei e você sabe que a distância não existe
Que todo grande amor
Só é bem grande se for triste
Por isso, meu amor
Não tenha medo de sofrer
Que todos os caminhos me encaminham pra você
Assim como o oceano
Só é belo com luar
Assim como a canção
Só tem razão se se cantar
Assim como uma nuvem
Só acontece se chover
Assim como o poeta
Só é grande se sofrer
Assim como viver
Sem ter amor não é viver
Não há você sem mim
E eu não existo sem você
Que nada nesse mundo levará você de mim
Eu sei e você sabe que a distância não existe
Que todo grande amor
Só é bem grande se for triste
Por isso, meu amor
Não tenha medo de sofrer
Que todos os caminhos me encaminham pra você
Assim como o oceano
Só é belo com luar
Assim como a canção
Só tem razão se se cantar
Assim como uma nuvem
Só acontece se chover
Assim como o poeta
Só é grande se sofrer
Assim como viver
Sem ter amor não é viver
Não há você sem mim
E eu não existo sem você
segunda-feira, 24 de maio de 2010
domingo, 23 de maio de 2010
sexta-feira, 21 de maio de 2010
Coisas que a vida me ensinou (O que não pode ser ouvido, não deve ser dito), DeRose
Não tenha ilusões. Tudo o que você disser a respeito de uma pessoa chegará ao conhecimento dela. Portanto, segure essa língua. Depois não adianta ficar revoltado com a inconfidência das pessoas. É assim mesmo.
Segredo de mais de uma pessoa não é mais segredo. No momento em que você conta seu segredo para uma pessoa da sua confiança, ela também só conta para uma outra da confiança dela e assim sucessivamente. Em pouco tempo, dezenas de pessoas estarão sabendo o seu “segredo”.
E para que contar? Por que essa necessidade de se expor? Sempre que precisar comentar algo sobre alguém, só diga coisas boas. Um belo exercício é: quando começar a dizer algo ruim ou começar a vomitar uma crítica sobre alguma pessoa, reverta a frase e comece imediatamente a elogiá-la. Essa pessoa não tem nada de bom para ser elogiado? Invente!
quinta-feira, 20 de maio de 2010
Ai Se Sesse, Zé da Luz
Se um dia nós se gosta-se
Se um dia nós se quere-se
Se nós dois se emparea-se
Se jutim nós dois vive-se
Se jutim nós dois mora-se
Se jutim nós dois drumi-se
Se jutim nós dois morre-se
Se pro céu nós assubi-se
Mas porém se acontece-se de São Pedro não abri-se
A porta do céu e fosse te dizer qualquer tolice
E se eu me arrimina-se
E tu com eu insinti-se
Prá que eu me arresouve-se
E a minha faca puxa-se
E o bucho do céu fura-se
Távez que nós dois fica-se
Távez que nós dois cai-se
E o céu furado arria-se
E as virgem todas fugir-se
Se um dia nós se quere-se
Se nós dois se emparea-se
Se jutim nós dois vive-se
Se jutim nós dois mora-se
Se jutim nós dois drumi-se
Se jutim nós dois morre-se
Se pro céu nós assubi-se
Mas porém se acontece-se de São Pedro não abri-se
A porta do céu e fosse te dizer qualquer tolice
E se eu me arrimina-se
E tu com eu insinti-se
Prá que eu me arresouve-se
E a minha faca puxa-se
E o bucho do céu fura-se
Távez que nós dois fica-se
Távez que nós dois cai-se
E o céu furado arria-se
E as virgem todas fugir-se
Moldura de mim mesma
tento me enquadrar nesse quadro mas não me acho. nem sei até onde vai essa moldura... nem tampouco o tamanho do meu espaço.
Jardim, Pedro Amaral
Nutrir um sentimento
Como quem a uma planta,
Ou algo assim:
Dar-lhe de beber,
Cuidar, podá-lo
E remediá-lo de seu fim.
Sobre a brevidade da vida, Sêneca
Deve-se aprender a viver por toda a vida e, por mais que tu talvez te espantes, a vida toda é um aprender a morrer.
A Oferenda, Mário Quintana
Eu queria trazer-te uns versos lindos...
Trago-te estas mãos vazias
Que vão tomando a forma do teu seio.
quarta-feira, 19 de maio de 2010
Canção dos olhos , Chico Buarque
Meu Deus, o que será que tem
Nesses olhos teus
O que será que tem
Pra me seduzir
Pra me escravizar
Não sei
E não saberei também
Como resistir
A seu modo amar...
Nesses olhos teus
O que será que tem
Pra me seduzir
Pra me escravizar
Não sei
E não saberei também
Como resistir
A seu modo amar...
terça-feira, 18 de maio de 2010
segunda-feira, 17 de maio de 2010
Prefácio
Se você entender que os vivos estão sempre a um passo da morte, perceberá o que há de engraçado na sua conduta; coisa que não perceberia se não entendesse que tudo que é vivo está sempre próximo da morte.
Acho que o conselho mais sólido para um escritor, entretanto, é o seguinte: procure respirar profundamente, procure sentir o gosto da comida quando ingeri-la e procure dormir realmente quando estiver dormindo. Procure estar totalmente vivo, o máximo que puder, com todas as suas energias. Quando rir, ria mesmo, gargalhe muito. Quando ficar com raiva, procure ser bom na sua raiva. Tente se manter vivo. Você pode morrer bem antes do que pensa.
William Saroyan, no prefácio do seu livro O jovem audaz no trapézio voador (maravilhoso!)
Acho que o conselho mais sólido para um escritor, entretanto, é o seguinte: procure respirar profundamente, procure sentir o gosto da comida quando ingeri-la e procure dormir realmente quando estiver dormindo. Procure estar totalmente vivo, o máximo que puder, com todas as suas energias. Quando rir, ria mesmo, gargalhe muito. Quando ficar com raiva, procure ser bom na sua raiva. Tente se manter vivo. Você pode morrer bem antes do que pensa.
William Saroyan, no prefácio do seu livro O jovem audaz no trapézio voador (maravilhoso!)
A vida é uma viagem
tem dias em que a gente acorda pronto para uma viagem, entra no carro e faz o mesmo caminho de sempre.
domingo, 16 de maio de 2010
Antes que o mundo acabe
Antes que o mundo acabe, que dá nome ao filme, é um projeto em que fotógrafos do mundo todo trabalham juntos para fotografarem o que ainda é diferente no mundo. Com a globalização, as pessoas estão cada vez mais próximas e por isso mesmo cada vez mais parecidas. Em pouco tempo, os jovens do mundo todo estarão vestindo as mesmas roupas, ouvindo as mesmas músicas e chorando pelo mesmo filme. A ideia do projeto, portanto, é fotografar o que ainda faz do mundo mundo: as diferenças. Antes que elas acabem.
O filme produzido pela Casa de Cinema de Porto Alegre, baseado no livro homônimo de Marcelo Carneiro da Cunha, traz esse assunto à tona em meio às descobertas de um adolescente que vive numa pequena cidade no Vale do Caí. Enquanto seus problemas parecem maiores do que realmente são, ele começa a receber correspondências do seu pai que nunca conheceu. A relação dos dois construída por fotos, palavras e vídeos muda para sempre a vida daquele garoto que em pouco tempo percebe que o mundo é muito maior do que a cidade em que vive.
Adorei.
O filme produzido pela Casa de Cinema de Porto Alegre, baseado no livro homônimo de Marcelo Carneiro da Cunha, traz esse assunto à tona em meio às descobertas de um adolescente que vive numa pequena cidade no Vale do Caí. Enquanto seus problemas parecem maiores do que realmente são, ele começa a receber correspondências do seu pai que nunca conheceu. A relação dos dois construída por fotos, palavras e vídeos muda para sempre a vida daquele garoto que em pouco tempo percebe que o mundo é muito maior do que a cidade em que vive.
Adorei.
Lavoura Arcaica, Raduan Nassar
Livro de discursos inflamados, numa fala poética, num dizer gritado. Lavoura Arcaica surpreende por vários motivos. Tem nele a musicalidade que se encontra na poesia, o que já bastaria para ser maravilhoso. Mas o livro vai além da forma trabalhada e nos traz um conteúdo atemporal, que caberia muito bem em qualquer cultura onde tenha a família e suas tradições como principal pedestal da sociedade.
Há uma tradição familiar forte, talhada nos móveis da casa antiga que serve de tempo e espaço ao mesmo tempo. É ali que se desenrola o drama daquela família. No seio dela, entre os carinhos da mãe e os sermões do pai, cresce o filho que trará na alma o anseio de ser livre. Daí a tensão da narrativa: a liberdade que se contrapões à tradição secular.
Percebe-se que André , o filho que carrega em si a missão de questionar a figura paterna e, consequentemente o sistema organizacional da família, possui uma sensorialidade exacerbada, cultivada nos afagos da mãe, no contato com a terra, nos perfumes das flores, no sumo das frutas. O problema se inicia quando as sensações de prazer de André se transformam em desejos que, por sua vez, não encontram espaço para serem saciados na casa antiga.
Um livro para ler e reler.
Sobre o autor
Raduan Nassar é paulista de Pindorama, onde passou a infância. Adolescente, veio com a família para São Paulo, onde cursou direito e filosofia na USP. Exerceu diversas atividades, estreando na literatura em 1975, com o romance Lavoura Arcaica. Em 1978 publica a novela Um copo de cólera (escrita em 70) . Em 1997 aparece Menina a caminho reunindo contos dos anos 60 e 70. Raduan Nassar deixou de escrever logo depois de sua estréia na literatura.
Curiosidades
O livro se tornou uma obra-prima também nas telas de cinema pelo diretor Luis Fernando Carvalho através de um trabalho primoroso com os atores, que passaram nove semanas em uma fazenda no interior de Minas Gerais, mergulhados nos personagens antes mesmo de se iniciarem as gravações.
Nela, os atores e a equipe técnica aprenderam a trabalhar a terra, ordenhar, fazer pão, bordar e dançar como uma família de origem libanesa. O próprio autor do texto original, Raduan Nassar, esteve presente durante esta etapa.
Marca-livro
O tempo é o maior tesouro de que um homem pode dispor; embora inconsumível, o tempo é o nosso melhor alimento; sem medida que o conheça, o tempo é contudo nosso bem de maior grandeza, não tem fim; é um pomo exótico que não pode ser repartido, podendo entretanto prover igualmente a todo mundo; onipresente, o tempo está em tudo; existe tempo, por exemplo, nesta mesa antiga: existiu primeiro uma terra propícia, existiu depois uma árvore secular feita de anos sossegados, e existiu finalmente uma prancha nodosa e dura trabalhada pelas mãos de um artesão dia após dia; existe tempo nas cadeiras onde nos sentamos, nos outros móveis da família, nas paredes da nossa casa, na água que bebemos, na terra que fecunda, na semente que germina, nos frutos que colhemos, no pão em cima da mesa, na massa fértil dos nossos corpos, na luz que nos ilumina, nas coisas que passam pela cabeça, no pó que dissemina, assim como em tudo que nos rodeia; rico não é o homem que coleciona e se pesa no amontoado de moedas, e nem aquele, devasso, que se estende, mãos e braços, em terras largas; rico só é o homem que aprendeu, piedoso e humilde, a conviver com o tempo, aproximando-se dele com ternura, não contrariando suas disposições, não se rebelando contra o seu curso, não irritando sua corrente, estando atento para o seu fluxo, brindando-o antes com sabedoria para receber dele os favores e não a sua ira; o equilíbrio da vida depende essencialmente deste bem supremo, e quem souber com acerto a quantidade de vagar, ou a de espera, que se deve por nas coisas, não corre nunca o risco, ao buscar por elas, de defrontar-se com o que não é.
sábado, 15 de maio de 2010
Traduzir-se, Ferreira Gullar
Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém
fundo sem fundo.
Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.
Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.
Uma parte de mim
almoça e janta:
outra parte
se espanta.
Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.
Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.
Traduzir uma parte
na outra parte
- que é uma questão
de vida ou morte -
será arte?
é todo mundo:
outra parte é ninguém
fundo sem fundo.
Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.
Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.
Uma parte de mim
almoça e janta:
outra parte
se espanta.
Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.
Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.
Traduzir uma parte
na outra parte
- que é uma questão
de vida ou morte -
será arte?
Tempo, tempo, tempo
quisera eu e não o tempo
que quando o(u)vi pela primeira vez
houvesse casado esses dois tempos
quisera estar nesses dois momentos
em uníssimo dentro de um só instante
para completar meus olhos de música
para encher com a tua presença os meus ouvidos
que quando o(u)vi pela primeira vez
houvesse casado esses dois tempos
quisera estar nesses dois momentos
em uníssimo dentro de um só instante
para completar meus olhos de música
para encher com a tua presença os meus ouvidos
O Apanhador de Desperdícios, Manoel de Barros
Uso a palavra para compor meus silêncios.
Não gosto das palavras
fatigadas de informar.
Dou mais respeito
às que vivem de barriga no chão
tipo água pedra sapo.
Entendo bem o sotaque das águas.
Dou respeito às coisas desimportantes
e aos seres desimportantes.
Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade
das tartarugas mais que a dos mísseis.
Tenho em mim esse atraso de nascença.
Eu fui aparelhado
para gostar de passarinhos.
Tenho abundância de ser feliz por isso.
Meu quintal é maior do que o mundo.
Sou um apanhador de desperdício:
Amo os restos
como as boas moscas.
Queria que a minha voz tivesse um formato de canto.
Porque eu não sou da informática:
eu sou da invencionática.
Só uso a palavra para compor meus silêncios.
Jogo
vamos combinar o seguinte:
movo a dama para esquerda
e você faz de conta que não vê
você pula com o rei para direita
e eu como você
sexta-feira, 14 de maio de 2010
Morena dos olhos d'água, Chico Buarque
Morena, dos olhos d'água,
Tira os seus olhos do mar.
Vem ver que a vida ainda vale
O sorriso que eu tenho
Pra lhe dar.
Descansa um meu pobre peito
Que jamais enfrenta o mar,
Mas que tem abraço estreito, morena,
Com jeito de lhe agradar.
Vem ouvir lindas histórias
Que por seu amor sonhei.
Vem saber quantas vitórias, morena,
Por mares que só eu sei.
Morena, dos olhos d'água,
Tira os seus olhos do mar.
Vem ver que a vida ainda vale
O sorriso que eu tenho
Pra lhe dar.
Seu homem foi-se embora,
Prometendo voltar já.
Mas as ondas não tem hora, morena,
De partir ou de voltar.
Passa a vela e vai-se embora
Passa o tempo e vai também.
Mas meu canto 'inda lhe implora, morena,
Agora, morena, vem.
Morena, dos olhos d'água,
Tira os seus olhos do mar.
Vem ver que a vida ainda vale
O sorriso que eu tenho
Pra lhe dar.
Quando cheguei, Lucas De Nardi
Quando cheguei a noite era alta,
a Lua brilhava no topo do céu.
A claridade revelava pequenas porções derramadas
de luzes curvilíneas, de sombras acinzentadas.
Logo entrei, cerrando a porta.
Lá fora, nada havia
na forma como me sentia.
Contavam-me, os pensamentos,
histórias de cores solares.
Sobre um tempo já registrado
que não soube imprimir-se no presente.
Em mim, brilhava a bela sensação triste
de ver a sombra acinzentar o amor
e tentar curvar as luzes sobre ele…
Desesperadamente, como alguém cego de repente,
buscava qualquer nesga de cor.
Qualquer vermelho ou dourado
Qualquer tropeço num coração chapado…
Nada me veio…
E então cerrei a porta.
a Lua brilhava no topo do céu.
A claridade revelava pequenas porções derramadas
de luzes curvilíneas, de sombras acinzentadas.
Logo entrei, cerrando a porta.
Lá fora, nada havia
na forma como me sentia.
Contavam-me, os pensamentos,
histórias de cores solares.
Sobre um tempo já registrado
que não soube imprimir-se no presente.
Em mim, brilhava a bela sensação triste
de ver a sombra acinzentar o amor
e tentar curvar as luzes sobre ele…
Desesperadamente, como alguém cego de repente,
buscava qualquer nesga de cor.
Qualquer vermelho ou dourado
Qualquer tropeço num coração chapado…
Nada me veio…
E então cerrei a porta.
quinta-feira, 13 de maio de 2010
Coisas que a vida me ensinou, DeRose
Não deixe para depois
Faça na hora. Tudo o que você deixa para depois acaba ficando eternamente para depois. O mecanismo psíquico é muito simples. Um dispositivo mental soa o alarme: atenção, tem que fazer tal coisa. Mas aí, você envia uma contra-ordem: não, é para depois. O psiquismo, obediente, arquiva no escaninho denominado “para depois”. E libera memória no HD.
No mundo profissional, assim como nas tarefas domésticas, deixar para depois é o atalho mais curto para o fracasso e consegue lhe sedimentar rapidamente uma neurose de desorganizatite crônica. Ela vem acompanhada da reputação correspondente, o que não é nada edificante para sua carreira, para a sua relação afetiva, nem para a sua auto-estima.
Quanto às compras, se vir uma coisa que lhe agrade, não deixe para depois. Quando você voltar para adquirir, poderá já não ter o modelo, a cor ou o tamanho que você quer. Entre logo. Peça para ver. Toque. Experimente. Decida-se. Se não tiver o dinheiro na hora, reserve. Informe-se discretamente sobre quem fabrica, para poder ir atrás, caso a loja não faça a reserva, ou não a honre, ou caso você deixe passar o prazo que o estabelecimento lhe concedeu para efetuar a transação.
Deixe para depois
Por outro lado, quando precisar fazer economia, mas não quiser sofrer com a frustração de desejar algo e não ter dinheiro para adquirir, use um truque. Diga a si mesmo: “Eu vou comprar isso. Mas não agora. Não faço compras por impulso. Vou pensar melhor e volto amanhã.”
Se a compra for realmente muito importante você voltará de fato amanhã. Mas na maior parte das vezes você vai simplesmente declinar. Com isso, no final de um mês terá feito alguma economia e ao fim de um ano você ficará impressionado com o total que terá economizado.
Faça na hora. Tudo o que você deixa para depois acaba ficando eternamente para depois. O mecanismo psíquico é muito simples. Um dispositivo mental soa o alarme: atenção, tem que fazer tal coisa. Mas aí, você envia uma contra-ordem: não, é para depois. O psiquismo, obediente, arquiva no escaninho denominado “para depois”. E libera memória no HD.
No mundo profissional, assim como nas tarefas domésticas, deixar para depois é o atalho mais curto para o fracasso e consegue lhe sedimentar rapidamente uma neurose de desorganizatite crônica. Ela vem acompanhada da reputação correspondente, o que não é nada edificante para sua carreira, para a sua relação afetiva, nem para a sua auto-estima.
Quanto às compras, se vir uma coisa que lhe agrade, não deixe para depois. Quando você voltar para adquirir, poderá já não ter o modelo, a cor ou o tamanho que você quer. Entre logo. Peça para ver. Toque. Experimente. Decida-se. Se não tiver o dinheiro na hora, reserve. Informe-se discretamente sobre quem fabrica, para poder ir atrás, caso a loja não faça a reserva, ou não a honre, ou caso você deixe passar o prazo que o estabelecimento lhe concedeu para efetuar a transação.
Deixe para depois
Por outro lado, quando precisar fazer economia, mas não quiser sofrer com a frustração de desejar algo e não ter dinheiro para adquirir, use um truque. Diga a si mesmo: “Eu vou comprar isso. Mas não agora. Não faço compras por impulso. Vou pensar melhor e volto amanhã.”
Se a compra for realmente muito importante você voltará de fato amanhã. Mas na maior parte das vezes você vai simplesmente declinar. Com isso, no final de um mês terá feito alguma economia e ao fim de um ano você ficará impressionado com o total que terá economizado.
quarta-feira, 12 de maio de 2010
Anatomia
Naquela madrugada gelada
o vento
sem tempo
cortava-me ao meio
meus ossos
meu medo
Naquela madrugada gelada
o vento,
face navalhada
Como se eu tivesse ruas
de uma cidade exposta
esquinas cruas
ruelas escuras
becos imundos
Onde se concentra
todo mal
do mundo?
Naquela madrugada gelada
o vento,
face navalhada
Palavras
retirante é uma palavra que caminha, pedra solidifica, cabide é engraçada e céu tem sempre estrelas.
Noite e Dia, Lobão
Nos lençóis da cama, bela manhã
No jeito de acordar
A pele branca, gata garota
No peito a ronronar
Seu fingir dormindo, lindo
Você está me convidando
Menina quer brincar de amar
Você esta me convidando
Menina quer brincar...
No escuro do quarto, bela na noite
Nas ondas do luar
Seus olhos negros, pantera nua
Vem me hipnotizar
Eu olho sorrindo, lindo!
Você está me convidando
Menina quer brincar de amar
Você está me convidando
Menina quer brincar...
Você está me convidando
Menina quer brincar de amar
Você esta me convidando
Menina quer brincar...
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