sábado, 1 de maio de 2010

Acenderam os grilos e os latidos baldios


Acenderam os grilos e os latidos baldios
Puxaram as vestes que a lua encobria
Dos olhares horizontes e dos amores pios
No teto zincado e rarefeito de poesia

Os garis soturnos baixaram a cabeça e varreram
Varreram a sujeira que andava pelas esquinas e ruas
Só não varreram a poeira que cobria os ouvidos da noite
                                Maltratados pela turba do dia

Chamaram os figurantes, cabisbaixos e sombrios
Trouxeram os amantes, os otários e os falsários 
Encheram a rua de medos, de ódios e de estranhezas
Tiraram de cena os estetas, as poetas e os poetas

O jantar foi servido nas latas vazias
A água jorrou das poças para as bocas
E a sarjeta serviu para moços e moças
Olharem o trapezista que da freguesia

Fugia.
Para a porta dos fundos
E dos fundos para mais fundo
Ainda.

A platéia distante, nas galerias,
Sentada em poltronas macias
Ria dos enganados e dos dramas

E quando o equilibrista,
Entre os goles da bebida,
Tragou de uma vez três vidas...

O público reagiu, levantou, brandiu

Mas nada foi feito e na noite que se seguiu
Mais vidas desavisadas ganharam a brevidade,
Mais uma vez, nos palcos da minha velha cidade

2 comentários:

Ana Flores disse...

ler um texto como esse já faz a vida valer a pena.

Naiana Alberti disse...

ana, que saudadessssss.