Este livro, indicado pelo meu pai como sendo uma ficção cheia de filosofia, possui duas narradoras que se alternam: uma garota de doze anos, moradora de um condomínio de luxo em Paris e a zeladora do prédio. Ambas estão desconectadas do seu meio, fingindo ser o que não são e vivendo um conflito social enquanto discorrem sobre a beleza das coisas, a arte e o comportamento humano. A narrativa de Paloma, a menina rica, é uma constante busca por encontrar algo pelo qual valha a pena continuar vivendo. Renée, a zeladora, precisa manter o esteriótipo da sua classe social para não se sobressair no meio em que vive. No entanto, ela adora a arte que há em Tolstoi, nas pinturas de Vermeer e nas cenas de Blade Runner.
Confesso que a leitura não me prendeu completamente, principalmente nas muitas páginas de filosofia que perdem verossimilhança pela voz das narradoras. O bom mesmo é a chegada de um novo morador no prédio, o Sr. Ozu, que transforma a vida delas e nos faz pensar se realmente encontramos outras pessoas pela vida ou apenas nos encontramos nelas.
Sobre a autora:
Muriel Barbery nasceu em Bayeux, em 1969. Ex-aluna da École Normale Supérieure, em Paris, atualmente leciona filosofia na Normandia, onde mora. Estreou na literatura com o romance Une Gourmandise (2000), traduzido em doze línguas. Seu segundo livro, A elegância do ouriço, foi uma das grandes sensações literárias de 2006 da França. Para se conhecer um pouco mais da autora, é possível vê-la numa entrevista em francês, no YouTube, ou visitar seu blog (ilustrado com belíssimas fotos de autoria de seu marido):
http://muriel.barbery.net/.
Curiosidades:
Bem ali, pertinho de Saint-Sulpice, no coração do Quartier Latin chic, começa uma rua que já abrigou algumas das mais belas residências parisienses. Estes antigos palácios estão hoje transformados em apartamentos, divididos e subdivididos. Alguns se transformaram em charmosos estúdios, alugados a peso de ouro; outros não se repartiram tanto e são hoje apartamentos de grande luxo, com muito mais que os 30 metros quadrados de praxe, abrigando famílias de alto poder aquisitivo. É bem ali na encruzilhada das Ruas Sèvres com Cherche-Midi, e Rue du Four, ou seja, no Carrefour de la Croix Rouge, por onde se entra na Rue do Dragon e se vira à esquerda na rua onde se aloja este
ouriço que, vizinho das
boutiques de YSL e de Miu-Miu, só podia ser apresentado como
elegante. (Texto de Lúcia Bettencourt)
Marca-livro:
Aí vai o pensamento profundo do dia: é a primeira vez que encontro alguém que procura as pessoas e que vê além. Isso pode parecer trivial, mas acho, mesmo assim, que é profundo. Nunca vemos além de nossas certezas e, mais grave ainda, renunciamos ao encontro, apenas encontramos a nós mesmos sem nos conhecer nesses espelhos permanentes. Se nos déssemos conta, se tomássemos consciência do fato de que sempre olhamos apenas para nós mesmos no outro, que estamos sozinhos no deserto, enlouqueceríamos.