sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Você e eu

Deito na cama primeiro. Conheço seus rituais antes de dormir. Com as costas viradas para a porta, escuto os sons dos teus passos pela casa, procurando uma garrafa de água que ficará do seu lado até o amanhecer. Depois de tantos anos, você ainda me pergunta por ela. Estende o braço para colocar a água no chão, do seu lado da cama, e deita, procurando minhas pernas para se encaixar nelas. Ainda escuto as buzinas dos carros resultado de um jogo que não vi. O vizinho do andar de cima caminha pela casa, arrasta alguns móveis e deixa o televisor ligado, pois posso ouvir uma voz abafada falar sem parar. Meu corpo me comunica o dia que tive e a noite que terei. O barulho dos torcedores começa a ficar cada vez mais longe e espassado. Logo não se ouvirá mais nada. Você ainda se levanta mais uma vez para ter certeza de que o vidro da janela está fechado. Fecha complementamente a persiana, como sempre faz. Para você conseguir dormir só estando num escuro profundo. O cachorro no chão revira seus pratos de água e comida e nos faz rir por breves instantes. Viramos de lado, você e eu. A cama está quente, aquecida pelo lençol térmico. Uma de nossas pernas está estendida e se tocam. A sua outra perna, flexionada, está por cima de mim e se encaixa na minha outra perna também flexionada. Seu braço me abraça pela frente e sua mão direita segura meu seio esquerdo. Paramos por alguns instantes. O silêncio dos nossos corpos faz com que possamos sentir o calor que agora emana de nós. Começamos a ficar quentes demais. A sua pele úmida se cola à minha. Você me pergunta se desligamos o lençol térmico e respondo que sim. Sugiro que mudemos de posição, mas você não quer. Gosta que estejamos assim. Então nos mantemos agarrados, mas nos deslocamos para o seu lado da cama. Já não escuto buzinas. Você se mexe mais um pouco para cessar alguma coceira pelo corpo. Seus quadris se mexem de encontro aos meus. Mas sabemos que vamos permanecer imóveis ainda por um tempo. Você logo dorme e eu fico com os olhos fechados, nossas pernas mornas, sua mão no meu seio. Perco a noção do tempo. Acordo com a luz do meu computador acesa, pulsando nos meus olhos. O seu celular apita avisando a chegada de uma mensagem. Já é tarde, eu sei. Depois disso, o seu celular também começa a piscar. Agora são duas luzes, intermitentes, uma branca e outra vermelha, que iluminam o quarto a cada segundo. Você não faz menção de acordar e as luzes não param. Tento me mexer um pouco e ver se você acorda e faz o seu celular silenciar. É como se uma outra realidade quisesse entrar na nossa, insistente. Mas a realidade é só uma. Por fim, você também desperta. Aviso que o seu celular pisca sem parar, como se fosse ele que sozinho se fizesse presente. Um ser vivo, talvez. Levanto para virar o meu computador para a parede. Você olha a tela do celular que ilumina o seu rosto e logo pousa ele no mesmo lugar. Vou em direção ao banheiro, mas retorno para proteger os pés. Você está com o celular novamente nas mãos, como se quisesse ter certeza do que acontece com ele. Quando volto, meu corpo já não reclama tanto como antes. Voltamos a nos encaixar. Dessa vez, nossos corpos quentes já não se saciam com apenas o toque de um no outro. Passamos a roçar nossas peles, nossas mãos, nossas bocas. O quarto escuro faz com que eu imagine nossos corpos no espaço como se acendesse uma luz de repente. Parte do seu corpo entra no meu. Ainda mais quente do que suas mãos que tocam a mim como se fosse um instrumento. Me deixo levar por essa sensação e danço ao som da música gerada pelo seu toque em mim. Minhas pernas se abrem ainda mais. Nos aproximamos ainda mais. É como se quiséssemos entrar no espaço um do outro. É como se tentássemos ser um o corpo do outro. Aproximo minhas pernas que você segura. Estamos ambos deitados, embalados pela preguiça da hora, pelo escuro da noite. Meus pés se aproximam do seu rosto, sua pélvis me toca plenamente. Falo algumas coisas. Você também. Você desce, me beijando toda, até parar onde antes seu corpo entrava no meu. E aí fica até eu não aguentar mais, até lançar na sua boca meus líquidos, meus versos. Você sorve tudo enquanto meu corpo em espasmo se dilata na cama. Faço o mesmo com você que de repente se derrama sobre mim. Voltamos a deitar, encaixados, imóveis até que o sono nos leve para outro lugar. Você logo dorme e seus músculos acordam. Sua mão segura firme na minha como se quissese dizer qualquer coisa. Durmo também. Acordo outras vezes inflamada. A camiseta e os cabelos molhados. Você continua a se mexer. Paramos novamente. Sempre uma parte do meu corpo tocando o seu. Penso que a única coisa que existe é esse momento. Nada nem ninguém existe além de nós nesse quarto. Tenho vontade de estender esse momento até o infinito. E faço isso através da palavra.

7 comentários:

San disse...

Meu fioooooooooooooooooooooo... que noite é essaaaaaaaaaaaaaaa... huahuahuahuahuaha.
Tá lindo meu amor... lindo demais!
beijooooooooo

little marcy disse...

hum.... adorei viver essa noite em tuas palavras....

Unknown disse...

Lindo o teu texto vivo...
Beijos no coração

Ana Flores disse...

o amor em palavras.

Beatriz disse...

momento infinito, basta relê-lo sempre que você se esquecer...

Joaquim Roxo disse...

Nai, faz muuuuuuuito que não entrava no seu blog e por acaso hj felizmeente o fiz. Uma inquietação me queimava até antes de ler esse maravilhoso texto.
Tão bom poder estar perto dos amigos assim e esses fazerem companhia. Obrigado Nai. Bjd e boa noite.

Ana Vieira disse...

Inquietante, apaixonante, excitante. A sheet burning sensation! Fell hot right now! Aff!