segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Ofensa à velocidade da luz, Charles Kiefer

Muitas vezes, a caminho de uma Agência dos Correios e Telégrafos, rasguei cartas que iria enviar. Entre o tempo da escritura e a remessa da carta, o coração serenara, e o que era mágoa, desilusão ou simples raiva transformara-se em outra coisa, perdão, compreensão ou simpatia pelos erros alheios.

No tempo das carruagens, o mal também se movimentava com lentidão. Ao menos, o mal epistolográfico.

Hoje, não. Hoje, quando nos damos conta, a ofensa já partiu à velocidade da luz.

Não conheço a experiência dos meus leitores, mas eu, mesmo sem querer, já magoei algumas pessoas por e-mail. Ou porque não refleti suficientemente antes de enviá-lo; ou porque o destinatário – na sua pressa igual a minha – leu mal e interpretou o conteúdo equivocadamente.

Ganhamos em rapidez e comodidade com a advento do e-mail, mas estamos perdendo em humanidade e delicadeza.

Os deuses, como diziam os fenícios, e que Fernando Pessoa plagiou, vendem quando dão.

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