sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Tu, acredite!

Tu, que me lês sem querer ter lido
Que engole minhas palavras empurradas com desgosto
Abre minha vida várias vezes ao dia
Sente tristeza quando eu sinto alegria

Faz isso pra criar o que dizer
O que ressentir, o que viver
Perde o seu tempo com o meu tempo
Chega em mim sem eu nem sei
És um fantasma, um agouro, uma chaga
Traz em si a podridão dos abutres
Feliz quando vê a carne fétida
Podre e já comida

Tu que me lês sem querer ter lido
Que decifra minhas linhas do seu jeito egoísta
Espia meus momentos mais vezes do que gostaria
Olha tudo com um prazer macabro
Vê dor onde eu vejo prazer

Faz isso pra escrever a sua vida
O que querer, pra que viver
Investe o seu tempo no meu tempo
Nem sabe que eu sempre sei
És só amor fingido
Que se alimenta do meu desejo
Sonhando com o que já tive
Sofrendo com o meu viver

Tu que me lês sem querer ter lido
Que faz dos meus escritos as suas amarguras
Escarafuncha meu viver até antes dos meus próximos
Faz deles o motivo da sua tristeza
Nem vê que ela não depende de mim

Faz isso porque não tem coragem
De ver que o seu destino não depende do meu
Que o seu amor impossível não é Romeu nem Julieta
É simplesmente falta de ser
Qualquer coisa que não aconteceu
Uma promessa desfeita
Filho morto antes mesmo de nascer

Tu que me lês sem querer ter lido
Deve agora estar me lendo talvez pela última vez
Sorvendo cada palavra que agora sim é pra você
Faz dela minha mágoa, minha tristeza
Vômito claro pra te ler

2 comentários:

Júlia Schütz Veiga disse...

espanto... espanto de tanta beleza... espanto de conseguir expressar em palavras tudo isso. lindo!estou contigo, sempre. beijos com amor, jujú.

Beatriz disse...

nai, que poema forte. sem palavras.