Você precisa saber de mim.
Os textos publicados não terão a ordem dos livros nem tampouco dos dicionários. Virão da desordem da vida, do improviso das águas, das impressões sobre qualquer coisa. Tudo que carregue o mistério de ser letra, verso, prosa. A única lógica será não ter lógica nenhuma. Pode ser que sirva, pode ser que exista, pode ser que dê. Quem sabe?
quarta-feira, 29 de dezembro de 2010
sexta-feira, 24 de dezembro de 2010
nuvens
carneiros brancos
correndo de um lado ao outro
do céu
na terra
carneiros pretos
voando de um lado ao outro
quarta-feira, 22 de dezembro de 2010
terça-feira, 21 de dezembro de 2010
íntima e intransferível
assistir a um filme no cinema é uma experiência íntima. é quando vivenciamos uma porção de coisas com centenas de outras pessoas. mas quando acaba, a vontade é de estar em silêncio e de deixar que todos saiam antes de mim. pra me esvaziar aos poucos até ficar completamente sozinha. só então levanto e saio caminhando, pensando na vida...
segunda-feira, 20 de dezembro de 2010
domingo, 19 de dezembro de 2010
camas, banheiros, você e eu, Charles Bukowski
pense em todas as camas
de todos os lugares
usadas continuamente
para amar
para dormir
para morrer.
e todos os banheiros
usados continuamente
para tomar banho
às vezes para amar.
nessa terra
alguns de nós amam melhor do que
morrem
mas a maioria morre
melhor do que
ama
e nós morremos
aos poucos
parte por parte
nos parques
tomando sorvete, ou
em iglus
equipados com geladeiras,
de demência,
ou sobre um tapete de palha
ou amores
destripados
ou
ou...
camas camas camas
banheiros banheiros banheiros
os sistemas humanos de sono
os sistemas humanos de banho
são as maiores invenções
do mundo.
mas nós não podíamos deixar
as coisas como estavam.
você me re-inventou
eu te re-inventei
e é por isso que
não mais
estamos juntos
nesta cama
ou no nosso banheiro.
A Mulher do Tenente Francês
Minha mãe adorava assistir a filmes em casa. Na sexta-feira íamos na locadora e voltávamos com uma pilha de mais ou menos 10 títulos. Pra quem não a conheceu, pode até estranhar o exagero. Mas era assim mesmo que acontecia e ela assistia a todos os filmes, durante as três noites e os dois dias seguintes. Alguns títulos, portanto, ficaram na minha memória desde aquela época. Hoje, um desses filmes caiu no meu sofá, ou melhor, na minha TV. A Mulher do Tenente Francês com Meryl Streep e Jeremy Irons. Lembro da minha mãe dizendo que o filme era incrível, lindo, imperdível. Isso foi em 81. Hoje, quando comecei a vê-lo, não tinha certeza quanto ao fato de tê-lo visto na época. Pena não poder ligar pra mamis agora e dizer que realmente o filme é incrível, lindo, imperdível. Ah, a última cena eu conhecia. Será que só esta sobreviveu na minha memória durante todo esse tempo?
feliz natal, Charles Bukowski
agora vejamos
quem está na minha lista para o Natal:
tem as três garotas furiosas
que me disseram para nunca mais
ligar de novo
e tem o cara do
Jiffy-Lube que disse que não tinha
tempo de trocar o óleo do meu carro
ontem
e tem aquele cara negro
do posto do pedágio
que levou pro lado pessoal
quando eu estava apenas brincando.
tem o cara que me vendeu
esta casa
que fez ele mesmo o encanamento
e fiação.
tem o machão que ganhou
8 milhões para lutar com o campeão
e desistiu porque disse
que tinha cólicas estomacais.
e tem o jóquei
do outro dia
que não aguentaria
a abertura da grade
quando eu tinha apostado nele 20 pila como vencedor,
e 20 como placê,
e daí todas as pessoas
que virão no dia de Natal ou
na véspera
ou no dia seguinte
porque é a temporada.
e daí também tem todos os vizinhos
que não vão falar comigo
porque me ouviram outra
noite
quando eu corria pelo jardim em frente da casa
bêbado e pelado praguejando,
atirando pedras.
e daí tem todos os balconistas
nos caixas em todo lugar
que parecem com estátuas de plástico
enquanto eu espero em suas longas filas
tentando reter um
movimento intestinal.
e daí, meu amigo, tem
você
sábado, 18 de dezembro de 2010
20 anos recolhidos, Chacal
chegou a hora de amar desesperadamente
apaixonadamente
descontroladamente
chegou a hora de mudar o estilo
de mudar o vestido
chegou atrasada como um trem atrasado
mas que chega
Tetro, Copolla
Apenas dois horários para assisti-lo, cinco da tarde ou meia-noite. Mesmo assim, não conseguiram me fazer não ir! Fui e ainda levei a Ana comigo. Sala vazia e o ar-condicionado no máximo. Tudo bem, eu aguento. Afinal, queria muito ver o último do Copolla, depois de 10 anos sem ele. Filme começando, luzes se apagando. (Esse momento do cinema é mágico. Limite entre a realidade e a hiperrealidade da tela, que se abre de repente.) Ah, primeira cena e eu já com a certeza de estar no lugar certo na hora certa na companhia certa e na temperatura errada. As cenas em preto e branco formam um jogo envolvente de luz, de sombras e de espelhos. Os reflexos também estão entre os personagens, que se vêem uns nos outros e na história que se revela aos poucos, feito imagem que aparece conforme a quantidade de luz que há nela. As tomadas são olhares novos sobre coisas velhas. Drama visto de cima, de baixo, do meio. Um filme que tem a música dentro da cena e Buenos Aires por cidade. Lindo!
Primeiro eu quero falar de amor, Chacal
meu amor se esparrama na grama
meu amor se esparrama na cama
meu amor se espreguiça
meu amor deita e rola no planeta
sexta-feira, 17 de dezembro de 2010
terça-feira, 14 de dezembro de 2010
vá e volte
corro de mim
entre ideias
e não tê-las
acabo em ti
no teu corpo
em teu alento
vasculho minha pele
e te encontro sempre
na escuridão
de ser dentro
na vastidão
de ser fora
(venha partilhar
meus pensamentos
venha dormir
minhas ideias)
vá e volte
...e fique
segunda-feira, 13 de dezembro de 2010
meus sois
tuas mãos
queimaram
minha pele
feito sol
do meio-dia
e meus olhos
foram teus
enquanto
tua boca
na minha
ensolarava
e no fim
das horas
teu gosto
salivava
meus sais
em sois
sem pensar
já não sei se beijo
ou se deixo de beijar
fico em dúvida
se escrevo
ou se me calo
sem pensar
domingo, 12 de dezembro de 2010
sexta-feira, 10 de dezembro de 2010
domingo, 5 de dezembro de 2010
será?
parece que nunca vou crescer.
a sensação de ser adulta não vem.
tenho sempre a percepção de que depois de amanhã, e só depois, cresço.
será?
a sensação de ser adulta não vem.
tenho sempre a percepção de que depois de amanhã, e só depois, cresço.
será?
domingo, 28 de novembro de 2010
Novidades do mundo
quando estamos abertos para as novidades do mundo, a gente não se espanta nem arregala os olhos como se estivesse vendo fantasma - a gente simplesmente aprende.
sábado, 27 de novembro de 2010
Caetano é pura poesia
Escuras coxas tuas duras duas de acrobata mulata,
Tua batata da perna moderna, a trupe intrépida em que fluis
Te encontro em Sampa de onde mal se vê quem sobe ou desce a rampa
Alguma coisa em nossa transa é quase luz forte demais
Parece pôr tudo à prova, parece fogo, parece, parece paz
Parece paz
Pletora de alegria, um show de Jorge Benjor dentro de nós
É muito, é grande, é total.
E agora?
Aquilo que nos faz bem também pode nos fazer mal. O que nos leva à glória também pode nos levar à miséria.
sexta-feira, 26 de novembro de 2010
do avesso
tem um músculo, do lado direito de mim, que resolveu dar meia volta. e eu, tentando tirá-lo do avesso...
Suspensa
existe um momento do dia em que a tarde é suspensa por um fio pela noite que se avizinha. os pássaros já não piam e os insetos noturnos amanhecem. é quando a orquestra da tarde recolhe seus instrumentos e paira no ar um silêncio feito do barulho que cessa.
sinto-me como o dia, suspensa, amortecida. e meus instrumentos, de improviso, tocam um jazz.
Morro Dois irmãos, Chico Buarque
Dois Irmãos, quando vai alta a madrugada
E a teus pés vão-se encostar os instrumentos
Aprendi a respeitar tua prumada
E desconfiar do teu silêncio
Penso ouvir a pulsação atravessada
Do que foi e o que será noutra existência
É assim como se a rocha dilatada
Fosse uma concentração de tempos
É assim como se o ritmo do nada
Fosse, sim, todos os ritmos por dentro
Ou, então, como um música parada
Sobre uma montanha em movimento
quinta-feira, 25 de novembro de 2010
Paisagens
teria tanto a dizer, mas prefiro o silêncio. poderia, por exemplo, falar sobre o amor. poderia dizer o quanto amo. poderia chorar entre palavras até molhar meus olhos. mas não é isso que desejo fazer agora. quero apenas falar de paisagens.
quando o tempo está para chover meus olhos escurecem e os cabelos encrespam. quando tem sol meu peito se abre em flor para deitar meus sais e queimar meus pensamentos. a chuva caindo fora de mim faz de mim um poço. quando faz frio gosto de sentir calor e quando faz calor gosto mesmo é de sentir frio.
Platão, carta VII, 341
Não se pode escrever sobre as verdades últimas, não se pode dizer exaustivamente como é a realidade; só se pode assinalar, para que os demais possam chegar a ela por si mesmos. A missão do mestre é contagiar seus discípulos com esse afã de realidade, para que eles se lancem, mediante penoso exercício à conquista da realidade mesma.
Panis et Circenses, Caetano Veloso e Gilberto Gil
terça-feira, 23 de novembro de 2010
Feita de sois
quando a gente se encontra, se encaixa, ajusta, solta dali, cola daqui, tudo se acha, tudo se vê, nada se esconde, tá tudo ali, iluminado, luzes por todo lado, casa limpa, arejada e a cabeça feita de sois.
segunda-feira, 22 de novembro de 2010
maggie and milly and molly and may, e.e. cummings
maggie and milly and molly and may
went down to the beach(to play one day)
and maggie discovered a shell that sang
so sweetly she couldn't remember her troubles,and
milly befriended a stranded star
whose rays five languid fingers were;
and molly was chased by a horrible thing
which raced sideways while blowing bubbles:and
may came home with a smooth round stone
as small as a world and as large as alone.
For whatever we lose(like a you or a me)
it's always ourselves we find in the sea
na estrênua brevidade, e.e. cummings
na estrênua brevidade
Vida:
realejos e abril
treva, amigos
Vida:
realejos e abril
treva, amigos
eu me lanço rindo.
Nas tintas fio-de-cabelo
da aurora amarela,
no ocaso colorido de mulheres
Nas tintas fio-de-cabelo
da aurora amarela,
no ocaso colorido de mulheres
eu sorrisando
deslizo. Eu
na grande viagem escarlate
nado, dizendomente;
deslizo. Eu
na grande viagem escarlate
nado, dizendomente;
(Você sabe?) o
sim, mundo
é provavelmente feito
de rosas & alô:
sim, mundo
é provavelmente feito
de rosas & alô:
(de atélogos e,cinzas)
domingo, 21 de novembro de 2010
sábado, 20 de novembro de 2010
O meu amor, Chico Buarque
O meu amor tem um jeito manso que é só seu
E que me deixa louca quando me beija a boca
A minha pele toda fica arrepiada
E me beija com calma e fundo
Até minh'alma se sentir beijada
O meu amor tem um jeito manso que é só seu
Que rouba os meus sentidos, viola os meus ouvidos
Com tantos segredos lindos e indecentes
Depois brinca comigo, ri do meu umbigo
E me crava os dentes
Eu sou sua menina, viu? E ele é o meu rapaz
Meu corpo é testemunha do bem que ele me faz
O meu amor tem um jeito manso que é só seu
Que me deixa maluca, quando me roça a nuca
E quase me machuca com a barba mal feita
E de pousar as coxas entre as minhas coxas
Quando ele se deita
O meu amor tem um jeito manso que é só seu
De me fazer rodeios, de me beijar os seios
Me beijar o ventre e me deixar em brasa
Desfruta do meu corpo como se o meu corpo
Fosse a sua casa
Eu sou sua menina, viu? E ele é o meu rapaz
Meu corpo é testemunha do bem que ele me faz
E que me deixa louca quando me beija a boca
A minha pele toda fica arrepiada
E me beija com calma e fundo
Até minh'alma se sentir beijada
O meu amor tem um jeito manso que é só seu
Que rouba os meus sentidos, viola os meus ouvidos
Com tantos segredos lindos e indecentes
Depois brinca comigo, ri do meu umbigo
E me crava os dentes
Eu sou sua menina, viu? E ele é o meu rapaz
Meu corpo é testemunha do bem que ele me faz
O meu amor tem um jeito manso que é só seu
Que me deixa maluca, quando me roça a nuca
E quase me machuca com a barba mal feita
E de pousar as coxas entre as minhas coxas
Quando ele se deita
O meu amor tem um jeito manso que é só seu
De me fazer rodeios, de me beijar os seios
Me beijar o ventre e me deixar em brasa
Desfruta do meu corpo como se o meu corpo
Fosse a sua casa
Eu sou sua menina, viu? E ele é o meu rapaz
Meu corpo é testemunha do bem que ele me faz
Nos seus olhos lindos
tirei o céu
do teto
cheio
de estrelas perdidas
continuei
sonhando
dormindo
nos seus olhos lindos
do teto
cheio
de estrelas perdidas
continuei
sonhando
dormindo
nos seus olhos lindos
quinta-feira, 18 de novembro de 2010
quarta-feira, 17 de novembro de 2010
método/ depoimento, Diego Grando
meus versos eu encontro por acaso
sozinhos num boteco - copo e rum -
que mostram muito e mesmo assim são rasos
não levam a ninguém, lugar nenhum
e mancam de sentido ou tem o prazo
vencido (noves fora sobra um):
brevíssimos insights cotidianos,
paredes de azulejo e desenganos.
enquanto eu os anoto em guardanapos
translúcidos - fritura de croquete -
um disco do roberto vai da capo
ao fim, e como se fosse um canivete
o grito de uma kombi corta o papo
(no vidro uma plaqueta: faço frete)
de velhos companheiros de estudo,
de trilha e de gamão, xadrez e ludo.
é essa a minha nova arte poética
e posso garantir que faz sentido
e mais, que tenho intuição profética
que vejo muito além e assim tem sido:
o nada retratado em minha estética
estática e instantânea é conhecido
de todos (do graçom ao cozinheiro)
e ecoa como frases de banheiro.
sexta-feira, 12 de novembro de 2010
quarta-feira, 10 de novembro de 2010
terça-feira, 9 de novembro de 2010
domingo, 7 de novembro de 2010
sábado, 6 de novembro de 2010
Cuidando de você, Luiz Melodia
O seu amor estava escuro
Eu clareei, dei outro tom
E enfeitei com rosas claras, raras
Rara rima, raro rumo
Gente coisa é outra fina
Boas frutas, pães e vinhos
Seu olhar voa distante
Silenciando essa vontade em jazz, jazz, jazz
Desprenda seu corpo na minha vida
Dorme aqui comigo
Oh doçura, oh ternura, meu bibelô
Com meu coração na mão dividindo emoção
Agora sou o seu vigor
Eu lamparina, seu pavio
Tô com gás e tanto faz
Dorme aqui comigo meu amor, meu bibelô
Fica numa boa
Meu perfil nessa leoa
Eu clareei, dei outro tom
E enfeitei com rosas claras, raras
Rara rima, raro rumo
Gente coisa é outra fina
Boas frutas, pães e vinhos
Seu olhar voa distante
Silenciando essa vontade em jazz, jazz, jazz
Desprenda seu corpo na minha vida
Dorme aqui comigo
Oh doçura, oh ternura, meu bibelô
Com meu coração na mão dividindo emoção
Agora sou o seu vigor
Eu lamparina, seu pavio
Tô com gás e tanto faz
Dorme aqui comigo meu amor, meu bibelô
Fica numa boa
Meu perfil nessa leoa
Hoje só quero melodia.
quarta-feira, 3 de novembro de 2010
terça-feira, 2 de novembro de 2010
Fome, Knut Hamsun
Na minha última viagem, aproveitei para ler bastante. A pilha de livros da minha cabeceira já estava se tornando outro criado-falante. E para mim, uma viagem que não seja a trabalho, implica descansar os olhos sobre os livros.
Aos poucos vou publicando minhas impressões sobre essas leituras que também viajaram (assim como eu através delas) alguns quilômetros.
Um dos eleitos foi Fome, de Knut Hamsun, traduzido pelo Carlos Drummond de Andrade. A Ana Flores gostou tanto dessa leitura que me emprestou seu exemplar na certeza de que eu iria gostar também. A propósito, é realmente uma felicidade para mim que os amigos queiram compartilhar comigo coisas pelas quais nutrem admiração.
O livro trata de forma autobiográfica a história de um escritor miserável que percorre as ruas de Oslo, trajando farrapos, portando um resto de lápis com o qual escreve artigos para os jornais e assim consegue aplacar a fome e continuar vivendo. Enquanto isso, ele reflete sobre o sentido da vida e luta por manter os seus princípios e valores independentemente das condições subumanas a que é submetido.
Vemos a fome dilacerar o ser humano, colocando-o em situações humilhantes e aterradoras. Mas a forma como o próprio personagem vê tudo isso, às vezes com desdém, outras com ironia, amenizam a dor daquela situação extrema. Ao mesmo tempo em que ele é tomado pela insanidade, consegue manter o contato com a realidade e desse modo revela momentos de imensa lucidez.
Genial é ver a pobreza ali desvelada sem o ranço de nenhuma ideologia. Não tem discurso político nem moralista. Tem apenas a visão realista de um miserável e por isso mesmo, você acaba se sentindo um deles.
A linha traçada entre o que é honesto e o que é preciso fazer para se manter vivo se mantém sempre tensionada. Afinal, por quanto cada um de nós se corromperia por um prato de comida?
A tradução é impecável e nos faz ler dois grandes autores ao mesmo tempo, Hamsun e Drummond.
Sobre o autor
Individualista, excêntrico, tímido e aparentemente desajustado, Hamsun tinha 60 anos quando aceitou ir à cerimônia de entrega do Nobel, com a condição de não ter que discursar. Mas surpreendeu a todos dizendo umas poucas palavras de encorajamento aos "jovens de todo mundo". No caminho do hotel perdeu o cheque milionário. Quando o encontraram, quis dividi-lo com os dois amigos noruegueses que o acompanharam a Estocolmo.
Knut Hamsun foi estivador, lenhador, marinheiro, sapateiro, condutor de bonde, jornalista, cuidador de frangos. Passou fome e sofreu todo o tipo de humilhação. O escritor atormentado de Fome é ele mesmo.
Marca-livro
Continuei, implacável, a tagarelar, com o penoso sentimento de que a aborrecia; de que nenhuma de minhas palavras antingia o alvo, e apesar de tudo não parava. No fundo, posso perfeitamente ter a alma um tanto delicada, sem por isso ser um louco; há naturezas que se alimentam de bagatelas, e que são destruídas simplesmente por uma palavra dura. Insinuei que eu era uma dessas naturezas. O fato é que a pobreza aguçara em mim certas faculdades, a ponto de causar-me profundos dissabores, sim, posso lhe garantir, profundos dissabores - ai de mim! Por outro lado, isso tem suas vantagens: até me ajuda, em certas situações. O pobre inteligente é um observador mais fino que o rico inteligente. O pobre olha em redor, a cada passo; examina, desconfiado, cada palavra das pessoas que vai encontrando; cada passo que ele próprio dá impõe a seu espírito e a seu coração uma tarefa, um dever. Tem ouvido fino, é impressionável, experiente, leva queimaduras na alma...
Curiosidades
Hamsun flertou com o nazismo e, ao final da guerra, foi preso e transferido para uma clínica psiquiátrica e depois para um asilo de velhos. Em 1947, foi julgado e condenado por suas ideias. Mas nada disso desqualifica sua obra.
Relacionamento aberto ou fechado, Ana Flores (compartilho)
Só para me divertir, comecei a fazer uma pequena lista das coisas que acho cafona. E entre ficar de mal com os ex-namorados, usar sandália plataforma, tomar cervejinha na beira da praia e viajar de excursão para o Nordeste, parei num ítem que me foi digno de reflexão. Espalhar aos quatros ventos que tem um relacionamento aberto. Aii...que cafona que é ficar falando isso. O mais engraçado é que o pessoal que faz uso desse discurso se acha ultra moderno. Assim, a Simone e o Sartre já viviam um relacionamento aberto em 1940, então vamos combinar que isso já está mais do que ultrapassado. O último grito é ser discreto, meu bem. Mantenha a discrição e estará sempre elegante e atual.
Mas o que é um relacionamento aberto, afinal? Aberto, o que? O que que fechou? O que é que está aberto? Alguém me explica.
Parece que existem inúmeras formas. Você pode ficar com quem quiser, mas e quero saber de tudo. Ou: Você pode ficar com quem quiser desde que eu não saiba de nada. Essa é boa, né? A pessoa vive numa ilusão só para tentar ser moderninha.Você me fala com quem quer se relacionar e eu aprovo ou não. Esse é aberto pra quem mesmo?! Tem aquele que tem relacionamento aberto mas quase morre de ciúmes. Pra que abrir, então? Tranque todas as portas e seja feliz. Também tem os relacionamentos abertos só de um lado. Do outro lado, portas fechadas. Sim, isso existe, acredite. E ainda, tem a questão do quanto que a porta pode abrir. Só uma frestinha ou portas e janelas sempre escancaradas para arejar? Enfim, cada casal vai criando as suas regras em busca da felicidade.
Para mim a felicidade não está exatamente em um relacionamento aberto ou fechado mas sim no que está por baixo dele. As catedrais estão em pé há centenas de anos porque foram construídas sobre uma sólida estrutura. O tempo e as guerras passaram e elas continuam vivas, estáveis, seguras e majestosas. A paixão, o encanto, a companhia e o desejo são apenas os ornamentos de uma catedral - e eu adoro ornamentos - mas o que está por baixo, é o que realmente vai segurar e manter a estrutura em pé, e isso chama-se amizade.
Se houver amizade, tudo estará bem de verdade. A relação - seja ela aberta, fechada, entreaberta ou trancada com cadeado e senha de 9 dígitos - se manterá viva, estável, segura e majestosa. Com amizade, você pode abrir ou fechar um relacionamento. Pode trancar o coração do seu parceiro a 7 chaves ou escancarar as portas e janelas, que tudo continuará na santa paz de Deus. Simples assim. Só que não vá pensando que amizade é tipo amor a primeira vista. Amizade a primeira vista só existe nos filmes de cachorro da sessão da tarde. Ela deve ser construída a quatro mãos e isso leva algum tempo. E a pergunta que deve ficar é: será que entre eu e o meu namorado ou namorada existe amizade? De verdade? ... Ou será temos apenas os lindos e coloridos ornamentos?
Gostou? Tem muito mais no Blog da Ana. Acesse anamorarte.blogspot.com
segunda-feira, 1 de novembro de 2010
Gopak
se as janelas são tortas
já não olho em linha reta
e o horizonte enviezado
arredonda o meu olhar
já não olho em linha reta
e o horizonte enviezado
arredonda o meu olhar
Reciprocidade, Geraldo Carneiro
o amor
desfaz
a noção
do tempo.
o tempo
desfaz
a noção
do amor.
(influência das ideias soltas dos cabelos ao vento)
desfaz
a noção
do tempo.
o tempo
desfaz
a noção
do amor.
(influência das ideias soltas dos cabelos ao vento)
Doidice, Djavan
É natural
Um vendaval que passa aqui
Mais doidice ali
Ou uma seca que arrasou
Pior é não te ver agora
Aflora vícios
Claras manhãs
Ou tanto mais
que eu possa ter
Nada quer dizer
Se o teu beijo não é meu
Cio chegando
Calor explodindo
Temores rondando o ar
E eu pensando em ti
Me apaixonei?
Talvez, pode ser
Enlouqueci?
Não sei, nunca vi
Preciso sair
Depois que eu descobri
que há você
Nunca mais existi...
Um vendaval que passa aqui
Mais doidice ali
Ou uma seca que arrasou
Pior é não te ver agora
Aflora vícios
Claras manhãs
Ou tanto mais
que eu possa ter
Nada quer dizer
Se o teu beijo não é meu
Cio chegando
Calor explodindo
Temores rondando o ar
E eu pensando em ti
Me apaixonei?
Talvez, pode ser
Enlouqueci?
Não sei, nunca vi
Preciso sair
Depois que eu descobri
que há você
Nunca mais existi...
sexta-feira, 29 de outubro de 2010
quinta-feira, 28 de outubro de 2010
quarta-feira, 27 de outubro de 2010
Beleza sustentável e qualidade de vida
Muito se escreve sobre beleza em revistas e jornais. Há uma infinidade de cosméticos que prometem acabar com as rugas, com as imperfeições e retardar o envelhecimento. Lemos sobre dietas milagrosas, pílulas que rejuvenescem e novidades no campo da ciência que possuem o único intuito de preservar a nossa juventude.
Na maioria dos casos, o que vemos são efeitos paliativos que escondem temporariamante o quanto nos descuidamos de nós mesmos. Estamos realmente na era do vídeo-clip, do fast food, da velocidade mega da internet. As pessoas exigem rapidez em tudo, inclusive para os resultados na área da estética. Ao mesmo tempo, isso gera uma falta de profundidade no entendimento das coisas. O tempo é curto e todos precisam obter alguma informação sobre o assunto do momento: sejam os escândalos na área da política, o que acontece com as celebridades, os últimos lançamentos da moda ou a nova cor de esmalte. E sobre o que acontece dentro de nós, investimos quanto tempo? Como consequência desse tipo de atitude, muito influenciada pelos meios de comunicação, a sociedade atual gera um indíviduo que se conhece superficialmente e que se preocupa muito mais com a beleza exterior do que com o seu próprio bem-estar. Há uma enorme preocupação em parecer belo e um verdadeiro descuido ou desinformação quanto a ser belo.
Além disso, a indústria da beleza criou um arquétipo inatingível e uma realidade insustentável. Um tipo de beleza que não é natural nem alcançável pela maioria das pessoas. O público mais suscetível a esse tipo de pressão é o feminino. Mulheres sempre magras, rostos perfeitamente simétricos, pele homogênea e cabelos de acordo com a moda estampam os editoriais de moda. Como se não bastasse isso, ainda existe outro agravante nesse processo de culto a um ideal de beleza, que são as revistas femininas destinadas a uma determinada faixa etária utilizarem, como modelos, mulheres com dez ou vinte anos a menos do que o público alvo. Como conquistar esse ideal? Como ter dez ou vinte anos a menos? Uma tarefa impossível para uma geração de mulheres insatisfeitas e com uma série de distúrbios alimentares e de imagem.
A pergunta que faço é: como sustentar uma beleza independentemente dos recursos estéticos que existem? Como ser belo de verdade? Nesse cenário surge um novo conceito que é o da beleza sustentável. Segundo o escritor DeRose, referência na área do bem-estar e da qualidade de vida, beleza sustentável é aquela maneira de se expressar na vida, na família e no trabalho, de forma a deixar satisfeita e realizada a própria pessoa, acima de tudo, e os demais, por consequência. Beleza sustentável é aquela que pode e deve ser cultivada independentemente da cosmética e das plásticas, as quais podem atuar como coadjuvantes, mas jamais como solução mágica. Beleza sustentável é aquela que resiste ao longo dos anos, seja qual for a idade da pessoa e sempre arranca exclamações de admiração.
Esse conceito de beleza pode ser assimilado e incorporado por nós em nossa maneira de ser, na forma como interagimos com as pessoas e como influenciamos o universo ao nosso redor. Fazemos isso evitando situações de stress, cultivando bons relacionamentos entre os seres humanos, procurando sempre uma forma mais sensível e amorosa de tratar com a família, com o parceiro afetivo, com os colegas de trabalho, com os amigos e até mesmo com os desconhecidos.
Trata-se de uma beleza cultivada de dentro para fora que extrapola os limites internos e se reflete em nosso corpo físico externo. Trata-se de uma beleza verdadeira, que pode ser sustentada por anos ou décadas. Com o tempo, descobrimos que a beleza, muitas vezes, não está atrelada a nenhum fator físico especial, mas que é um reflexo da forma como nos sentimos num determinado momento. Por exemplo, quando recebemos um elogio, quando nos sentimos valorizados, quando realizamos com sucesso algum projeto, quando nos sentimos especiais. Podemos concluir que a beleza sustentável é aquela construída com base na auto-estima, na segurança e no conforto pessoal.
Nesse panorama, o Método DeRose possui ferramentas para o desenvolvimento integral do ser humano, com conceitos e técnicas oriundas de tradições muito antigas, que acentuam essas potencialidades. Esse trabalho vem sendo realizado há 50 anos no Brasil e fora dele, com o intuito de aprimorar a mente, o emocional e o corpo. Para isso, o Método utiliza uma série de técnicas corporais, respiratórias e de mentalização, que nos ensinam a gerar determinados modelos mentais, os quais nos ajudam a superar circunstâncias difíceis, outras bastante duras e até mesmo aquelas aparentemente impossíveis de serem superadas. Percebe-se que às vezes basta um tom de voz amigável, um sorriso ou a palavra certa para administrar um conflito e mantermos um estado de bem-estar constante.
Um estado de animosidade numa relação afetiva, entre amigos ou colegas de profissão, pode deteriorar e comprometer, às vezes para sempre, essas relações. Pessoas de bem com a vida vivem mais, produzem mais no trabalho e aumentam sua expectativa de vida, o que caracteriza uma das propostas do Método.
Segundo o Educador DeRose, é preciso que cada pessoa se preocupe com a sua atualização e auto-superação constante. Ele afirma que ao longo da vida dele, observou que as mulheres que conseguiam tudo o que queriam – fosse no âmbito profissional, fosse no afetivo – não eram as esculturais. Eram as que possuíam beleza interior. Elas cativavam, conquistavam e seduziam pelo olhar, que expressa o que cada um tem de verdadeiro dentro de si. Isso é beleza sustentável!
(Matéria publicada na Revista Sul Sports número 34)
segunda-feira, 25 de outubro de 2010
Sobre você
você me fez subir
pra cima de você
e sua boca úmida
beijou primeiro
um depois o outro
seio e suas mãos
tomaram a forma
dos meus quadris
fechei os olhos
de mim e fui
sendo cada
vez mais
eu
sobre
você
sábado, 23 de outubro de 2010
Depois do último beijo
Uma tarde maluca jogados
no sofá público de estar
nos sentamos lado a lado
de nós mesmos apertados
um no outro quase pra não
caber em si o que somos
e seus dedos se encontraram
com o toque macio da segunda pele
que cobria meu ventre já molhado
e seus olhos na minha a boca
e minha boca nos seus olhos
e minhas mãos com fome
se alimentando do seu céu
e seus dedos afastaram
o véu que cobria meus
líquidos tenros sulcos
tua boca molhada aberta
até mostrar seus sonhos
e nada fazia sentido e tudo
naquele instante fazia
sentido e os vidros todos
pra rua e a porta pra tudo
aberta e nós dois água
de nós mesmos escorrendo
pelo sofá pelo chão pelo teto
a sala ficou pequena o relógio
parou e esquecemos quem somos
onde estávamos pra que viemos
e aquele flash ficou marcado
da nossa presença no sofá
público entre livros e esquecimentos
no sofá público de estar
nos sentamos lado a lado
de nós mesmos apertados
um no outro quase pra não
caber em si o que somos
e seus dedos se encontraram
com o toque macio da segunda pele
que cobria meu ventre já molhado
e seus olhos na minha a boca
e minha boca nos seus olhos
e minhas mãos com fome
se alimentando do seu céu
e seus dedos afastaram
o véu que cobria meus
líquidos tenros sulcos
tua boca molhada aberta
até mostrar seus sonhos
e nada fazia sentido e tudo
naquele instante fazia
sentido e os vidros todos
pra rua e a porta pra tudo
aberta e nós dois água
de nós mesmos escorrendo
pelo sofá pelo chão pelo teto
a sala ficou pequena o relógio
parou e esquecemos quem somos
onde estávamos pra que viemos
e aquele flash ficou marcado
da nossa presença no sofá
público entre livros e esquecimentos
sexta-feira, 22 de outubro de 2010
Objetos de estar
eles vivem juntos
o sofá e a cadeira
nenhum senta
um no outro
porque um sofá
e o outro cadeira
um não vê sofá
outro nem quer
saber de estar
mas estão juntos
um vive por deitar
enquanto o outro
espera levantar
o sofá e a cadeira
nenhum senta
um no outro
porque um sofá
e o outro cadeira
um não vê sofá
outro nem quer
saber de estar
mas estão juntos
um vive por deitar
enquanto o outro
espera levantar
de olhos cerrados
de olhos cerrados
o corpo
o corpo
que me encerra
se esvaiaos poucos
a ideia de ser
escorrega
feito neve esquecida
de mim mesma
amplidão
amplidão
dita palavra
falada amplia-se
não há maneira
de dizê-la corrida
evola-se no ar
no eme contínuo
no eco do ão
quando
de letras unidas
vira fala
expande-me
alarga-a
horizonta-o
dita palavra
falada amplia-se
não há maneira
de dizê-la corrida
evola-se no ar
no eme contínuo
no eco do ão
quando
de letras unidas
vira fala
expande-me
alarga-a
horizonta-o
Último beijo
nosso último beijo
depois de tantos outros
beijos foi no meio
do trânsito na sinaleira
fechada entre o caminho
que nos levava pra
algum lugar no meio
do dia no meio da gente
no fim de tudo no fim
da linha quando nada
nos impedia de ser só
aquilo o último beijo
entre tantos desejos
insolúveis como o
café que foi se tornando
a nossa história mal
passado frio fora
da hora do tom da vida
e nossos lábios foram
um e nossas línguas
foram mãos e nossos
olhos foram vãos
pra não dizer nada
pra não saber nada
pra ser somente o
último beijo na esquina
de mim na sua estrada
entre buzinas e luzes
da minha cabeça louca
de sensações sem droga
sem nexo com a dor
do parto da hora
perdida em outro fato
de outras histórias
que não são nossas
e veio a saudade
misturada com a saliva
e a sua mão levando
a minha para o cume
alto do seu sexo
tardio bêbado de mim
e a sinaleira fechada
parada no tempo
esperando o último
beijo sem sentido
no último segundo
e eu torcendo pelo
fim do mundo e eu
querendo o fim
de tudo mas a sinaleira
abriu o beijo se tornou
o último e o mundo
seguiu e rompi todas
as portas e janelas
de mim pra entrar
o primeiro beijo
da próxima esquina
minha de uma estrada
nova sem sinal
nem placa
de pare
nem placa
de pare
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