domingo, 4 de setembro de 2011

Talvez uma história de amor, Martin Page



Você vê loucura em tudo. Com isso, evita lidar com a complexidade das coisas.
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O cristianismo enfiou a ideia de verdade na cabeça das pessoas com o uso de torturas e tribunais de Inquisição. Mas, desde que se deixou de levar feiticeiras à fogueira, perseguir os judeus e defender a escravidão, a mentira parece bem mais adaptada à vida social.
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As conversas previsíveis sobre assuntos obrigatórios o cansavam. 
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Espontaneamente, quando imaginamos o nosso parceiro ideal, desenhamos a nós mesmos, sem as lacunas ou as fragilidades e com o sexo que mais nos convenha.
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Ninguém admitiria isso, mas o fato é que não há nada para comemorar quando nossos amigos dão certo na vida e se apaixonam, pois isso os afasta de nós. Os grupos mais sólidos de amigos se apoiam em fracassos profissionais e sentimentais.
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Há um paralelo perturbador entre o crescimento do turismo e a multiplicação de casos sentimentais. Amamos da mesma forma como viajamos, por períodos curtos e seguindo roteiros predeterminados. Apaixonamo-nos para ter lembranças, cartas, um conjunto de sensações, novas cores em nossas íris; para ter o que contar no escritório, aos nossos amigos, ao nosso psicanalista. Não existe diferença entre o amor e as viagens, pois sempre voltamos a eles.
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As compras proporcionam uma oportunidade de compartilhar uma experiência coletiva e mística. Avançamos uns ao lado dos outros. Cada um carrega sua cesta ou empurra seu carrinho. Ninguém esconde suas compras. 
As cestas revelam a nossa intimidade: ficamos sabendo de tudo sobre os nossos banheiros, sobre o que há em nossas geladeiras e a composição de nossas famílias. A exposição inocente é a regra. Ficamos nus como criancinhas, e isso não nos incomoda.
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O meio da manhã de um dia de semana é a melhor hora para saborear a singela felicidade de se sentar à mesa de um café.
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Virgile estava convencido de que as pessoas saíam juntos, casavam-se, compravam novos aparelhos eletrônicos e tinham filhos unicamente para terem assunto para conversar. No fundo, Virgile gostava mesmo era de conversar sobre a própria conversa, suas liberdades, seus limites.
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É preciso tempo para se sentir bem com o corpo do outro.
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Estamos sempre fazendo os nossos próprio reclames.
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Só existe uma forma de não nos arriscarmos a perder aqueles que poderíamos amar. É não permitindo que eles entrem em nossa vida.

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