sábado, 21 de maio de 2011

A Praça San Martin, Jorge Luis Borges

Em busca da tarde
fui esquadrinhando em vão as ruas.
Já estavam os alpendres entorpecidos de sombra.
Com fino brunimento de mogno
a tarde inteira tinha-se remansado na praça,
serena e sazonada,
benfeitora e sutil como uma lâmpada,
clara como uma fronte,
grave como gesto de homem enlutado.
Todo sentir se aquieta
sob a absolvição das árvores
- jacarandás, acácias - 
cujas piedosas curvas
atenuam a rigidez da impossível estátua
e em cuja rede se exalta
a glória das luzes equidistantes
do leve azul e da terra avermelhada.
Como se vê bem a tarde
do fácil sossego dos bancos!
Abaixo
o porto anela latitudes longínquas
e a profunda praça igualadora de almas
se abre como a morte, como o sonho.

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