quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Aprendi com o Manoel



Aprendi com o Manoel que as coisas pequenas são grandes
e que o chão com suas miudezas não é menos poético do que as estrelas

Ele me ensinou a fotografar o silêncio e a desinventar objetos
a entender os delírios do verbo e a inventar memórias

aprendi com o Manoel que a filosofia está nas coisas simples
e que o olhar para as coisas desimportantes torna a alma mais tolerante

e mesmo no dia da sua partida
aprendi com ele
que ir
não é triste
é da natureza

domingo, 9 de novembro de 2014

Na passagem da tarde

na tarde ensolarada
o dia em pássaros
em sons que marcam
a passagem do dia


Hábito II

Deixei as janelas abertas
pra noite escura

entrar

Nenhuma estrela sozinha
nem aquela companhia

só a vida acesa
dos vizinhos sós
das almas em sol





Hábito

Deixei a dor remota
aquela coisa antiga

de humores impregnados
sair pela janela
aberta de mim

Qualquer resquício de pó
talvez uma nota perdida
insista em ficar

entre paredes
pelos cômodos
sobre objetos tolos

pelo hábito de continuar

Seco

Egon Schiele

Viver em solo seco
em séquito mudo.

Fazer oco o mundo
Dar eco à seiva

Desfilar montanhas
Alinhar o tempo

Secar a alma muda
no braço vivo

da terra.