quando estamos abertos para as novidades do mundo, a gente não se espanta nem arregala os olhos como se estivesse vendo fantasma - a gente simplesmente aprende.
Os textos publicados não terão a ordem dos livros nem tampouco dos dicionários. Virão da desordem da vida, do improviso das águas, das impressões sobre qualquer coisa. Tudo que carregue o mistério de ser letra, verso, prosa. A única lógica será não ter lógica nenhuma. Pode ser que sirva, pode ser que exista, pode ser que dê. Quem sabe?
domingo, 28 de novembro de 2010
sábado, 27 de novembro de 2010
Caetano é pura poesia
Escuras coxas tuas duras duas de acrobata mulata,
Tua batata da perna moderna, a trupe intrépida em que fluis
Te encontro em Sampa de onde mal se vê quem sobe ou desce a rampa
Alguma coisa em nossa transa é quase luz forte demais
Parece pôr tudo à prova, parece fogo, parece, parece paz
Parece paz
Pletora de alegria, um show de Jorge Benjor dentro de nós
É muito, é grande, é total.
E agora?
Aquilo que nos faz bem também pode nos fazer mal. O que nos leva à glória também pode nos levar à miséria.
sexta-feira, 26 de novembro de 2010
do avesso
tem um músculo, do lado direito de mim, que resolveu dar meia volta. e eu, tentando tirá-lo do avesso...
Suspensa
existe um momento do dia em que a tarde é suspensa por um fio pela noite que se avizinha. os pássaros já não piam e os insetos noturnos amanhecem. é quando a orquestra da tarde recolhe seus instrumentos e paira no ar um silêncio feito do barulho que cessa.
sinto-me como o dia, suspensa, amortecida. e meus instrumentos, de improviso, tocam um jazz.
Morro Dois irmãos, Chico Buarque
Dois Irmãos, quando vai alta a madrugada
E a teus pés vão-se encostar os instrumentos
Aprendi a respeitar tua prumada
E desconfiar do teu silêncio
Penso ouvir a pulsação atravessada
Do que foi e o que será noutra existência
É assim como se a rocha dilatada
Fosse uma concentração de tempos
É assim como se o ritmo do nada
Fosse, sim, todos os ritmos por dentro
Ou, então, como um música parada
Sobre uma montanha em movimento
quinta-feira, 25 de novembro de 2010
Paisagens
teria tanto a dizer, mas prefiro o silêncio. poderia, por exemplo, falar sobre o amor. poderia dizer o quanto amo. poderia chorar entre palavras até molhar meus olhos. mas não é isso que desejo fazer agora. quero apenas falar de paisagens.
quando o tempo está para chover meus olhos escurecem e os cabelos encrespam. quando tem sol meu peito se abre em flor para deitar meus sais e queimar meus pensamentos. a chuva caindo fora de mim faz de mim um poço. quando faz frio gosto de sentir calor e quando faz calor gosto mesmo é de sentir frio.
Platão, carta VII, 341
Não se pode escrever sobre as verdades últimas, não se pode dizer exaustivamente como é a realidade; só se pode assinalar, para que os demais possam chegar a ela por si mesmos. A missão do mestre é contagiar seus discípulos com esse afã de realidade, para que eles se lancem, mediante penoso exercício à conquista da realidade mesma.
Panis et Circenses, Caetano Veloso e Gilberto Gil
terça-feira, 23 de novembro de 2010
Feita de sois
quando a gente se encontra, se encaixa, ajusta, solta dali, cola daqui, tudo se acha, tudo se vê, nada se esconde, tá tudo ali, iluminado, luzes por todo lado, casa limpa, arejada e a cabeça feita de sois.
segunda-feira, 22 de novembro de 2010
maggie and milly and molly and may, e.e. cummings
maggie and milly and molly and may
went down to the beach(to play one day)
and maggie discovered a shell that sang
so sweetly she couldn't remember her troubles,and
milly befriended a stranded star
whose rays five languid fingers were;
and molly was chased by a horrible thing
which raced sideways while blowing bubbles:and
may came home with a smooth round stone
as small as a world and as large as alone.
For whatever we lose(like a you or a me)
it's always ourselves we find in the sea
na estrênua brevidade, e.e. cummings
na estrênua brevidade
Vida:
realejos e abril
treva, amigos
Vida:
realejos e abril
treva, amigos
eu me lanço rindo.
Nas tintas fio-de-cabelo
da aurora amarela,
no ocaso colorido de mulheres
Nas tintas fio-de-cabelo
da aurora amarela,
no ocaso colorido de mulheres
eu sorrisando
deslizo. Eu
na grande viagem escarlate
nado, dizendomente;
deslizo. Eu
na grande viagem escarlate
nado, dizendomente;
(Você sabe?) o
sim, mundo
é provavelmente feito
de rosas & alô:
sim, mundo
é provavelmente feito
de rosas & alô:
(de atélogos e,cinzas)
domingo, 21 de novembro de 2010
sábado, 20 de novembro de 2010
O meu amor, Chico Buarque
O meu amor tem um jeito manso que é só seu
E que me deixa louca quando me beija a boca
A minha pele toda fica arrepiada
E me beija com calma e fundo
Até minh'alma se sentir beijada
O meu amor tem um jeito manso que é só seu
Que rouba os meus sentidos, viola os meus ouvidos
Com tantos segredos lindos e indecentes
Depois brinca comigo, ri do meu umbigo
E me crava os dentes
Eu sou sua menina, viu? E ele é o meu rapaz
Meu corpo é testemunha do bem que ele me faz
O meu amor tem um jeito manso que é só seu
Que me deixa maluca, quando me roça a nuca
E quase me machuca com a barba mal feita
E de pousar as coxas entre as minhas coxas
Quando ele se deita
O meu amor tem um jeito manso que é só seu
De me fazer rodeios, de me beijar os seios
Me beijar o ventre e me deixar em brasa
Desfruta do meu corpo como se o meu corpo
Fosse a sua casa
Eu sou sua menina, viu? E ele é o meu rapaz
Meu corpo é testemunha do bem que ele me faz
E que me deixa louca quando me beija a boca
A minha pele toda fica arrepiada
E me beija com calma e fundo
Até minh'alma se sentir beijada
O meu amor tem um jeito manso que é só seu
Que rouba os meus sentidos, viola os meus ouvidos
Com tantos segredos lindos e indecentes
Depois brinca comigo, ri do meu umbigo
E me crava os dentes
Eu sou sua menina, viu? E ele é o meu rapaz
Meu corpo é testemunha do bem que ele me faz
O meu amor tem um jeito manso que é só seu
Que me deixa maluca, quando me roça a nuca
E quase me machuca com a barba mal feita
E de pousar as coxas entre as minhas coxas
Quando ele se deita
O meu amor tem um jeito manso que é só seu
De me fazer rodeios, de me beijar os seios
Me beijar o ventre e me deixar em brasa
Desfruta do meu corpo como se o meu corpo
Fosse a sua casa
Eu sou sua menina, viu? E ele é o meu rapaz
Meu corpo é testemunha do bem que ele me faz
Nos seus olhos lindos
tirei o céu
do teto
cheio
de estrelas perdidas
continuei
sonhando
dormindo
nos seus olhos lindos
do teto
cheio
de estrelas perdidas
continuei
sonhando
dormindo
nos seus olhos lindos
quinta-feira, 18 de novembro de 2010
quarta-feira, 17 de novembro de 2010
método/ depoimento, Diego Grando
meus versos eu encontro por acaso
sozinhos num boteco - copo e rum -
que mostram muito e mesmo assim são rasos
não levam a ninguém, lugar nenhum
e mancam de sentido ou tem o prazo
vencido (noves fora sobra um):
brevíssimos insights cotidianos,
paredes de azulejo e desenganos.
enquanto eu os anoto em guardanapos
translúcidos - fritura de croquete -
um disco do roberto vai da capo
ao fim, e como se fosse um canivete
o grito de uma kombi corta o papo
(no vidro uma plaqueta: faço frete)
de velhos companheiros de estudo,
de trilha e de gamão, xadrez e ludo.
é essa a minha nova arte poética
e posso garantir que faz sentido
e mais, que tenho intuição profética
que vejo muito além e assim tem sido:
o nada retratado em minha estética
estática e instantânea é conhecido
de todos (do graçom ao cozinheiro)
e ecoa como frases de banheiro.
sexta-feira, 12 de novembro de 2010
quarta-feira, 10 de novembro de 2010
terça-feira, 9 de novembro de 2010
domingo, 7 de novembro de 2010
sábado, 6 de novembro de 2010
Cuidando de você, Luiz Melodia
O seu amor estava escuro
Eu clareei, dei outro tom
E enfeitei com rosas claras, raras
Rara rima, raro rumo
Gente coisa é outra fina
Boas frutas, pães e vinhos
Seu olhar voa distante
Silenciando essa vontade em jazz, jazz, jazz
Desprenda seu corpo na minha vida
Dorme aqui comigo
Oh doçura, oh ternura, meu bibelô
Com meu coração na mão dividindo emoção
Agora sou o seu vigor
Eu lamparina, seu pavio
Tô com gás e tanto faz
Dorme aqui comigo meu amor, meu bibelô
Fica numa boa
Meu perfil nessa leoa
Eu clareei, dei outro tom
E enfeitei com rosas claras, raras
Rara rima, raro rumo
Gente coisa é outra fina
Boas frutas, pães e vinhos
Seu olhar voa distante
Silenciando essa vontade em jazz, jazz, jazz
Desprenda seu corpo na minha vida
Dorme aqui comigo
Oh doçura, oh ternura, meu bibelô
Com meu coração na mão dividindo emoção
Agora sou o seu vigor
Eu lamparina, seu pavio
Tô com gás e tanto faz
Dorme aqui comigo meu amor, meu bibelô
Fica numa boa
Meu perfil nessa leoa
Hoje só quero melodia.
quarta-feira, 3 de novembro de 2010
terça-feira, 2 de novembro de 2010
Fome, Knut Hamsun
Na minha última viagem, aproveitei para ler bastante. A pilha de livros da minha cabeceira já estava se tornando outro criado-falante. E para mim, uma viagem que não seja a trabalho, implica descansar os olhos sobre os livros.
Aos poucos vou publicando minhas impressões sobre essas leituras que também viajaram (assim como eu através delas) alguns quilômetros.
Um dos eleitos foi Fome, de Knut Hamsun, traduzido pelo Carlos Drummond de Andrade. A Ana Flores gostou tanto dessa leitura que me emprestou seu exemplar na certeza de que eu iria gostar também. A propósito, é realmente uma felicidade para mim que os amigos queiram compartilhar comigo coisas pelas quais nutrem admiração.
O livro trata de forma autobiográfica a história de um escritor miserável que percorre as ruas de Oslo, trajando farrapos, portando um resto de lápis com o qual escreve artigos para os jornais e assim consegue aplacar a fome e continuar vivendo. Enquanto isso, ele reflete sobre o sentido da vida e luta por manter os seus princípios e valores independentemente das condições subumanas a que é submetido.
Vemos a fome dilacerar o ser humano, colocando-o em situações humilhantes e aterradoras. Mas a forma como o próprio personagem vê tudo isso, às vezes com desdém, outras com ironia, amenizam a dor daquela situação extrema. Ao mesmo tempo em que ele é tomado pela insanidade, consegue manter o contato com a realidade e desse modo revela momentos de imensa lucidez.
Genial é ver a pobreza ali desvelada sem o ranço de nenhuma ideologia. Não tem discurso político nem moralista. Tem apenas a visão realista de um miserável e por isso mesmo, você acaba se sentindo um deles.
A linha traçada entre o que é honesto e o que é preciso fazer para se manter vivo se mantém sempre tensionada. Afinal, por quanto cada um de nós se corromperia por um prato de comida?
A tradução é impecável e nos faz ler dois grandes autores ao mesmo tempo, Hamsun e Drummond.
Sobre o autor
Individualista, excêntrico, tímido e aparentemente desajustado, Hamsun tinha 60 anos quando aceitou ir à cerimônia de entrega do Nobel, com a condição de não ter que discursar. Mas surpreendeu a todos dizendo umas poucas palavras de encorajamento aos "jovens de todo mundo". No caminho do hotel perdeu o cheque milionário. Quando o encontraram, quis dividi-lo com os dois amigos noruegueses que o acompanharam a Estocolmo.
Knut Hamsun foi estivador, lenhador, marinheiro, sapateiro, condutor de bonde, jornalista, cuidador de frangos. Passou fome e sofreu todo o tipo de humilhação. O escritor atormentado de Fome é ele mesmo.
Marca-livro
Continuei, implacável, a tagarelar, com o penoso sentimento de que a aborrecia; de que nenhuma de minhas palavras antingia o alvo, e apesar de tudo não parava. No fundo, posso perfeitamente ter a alma um tanto delicada, sem por isso ser um louco; há naturezas que se alimentam de bagatelas, e que são destruídas simplesmente por uma palavra dura. Insinuei que eu era uma dessas naturezas. O fato é que a pobreza aguçara em mim certas faculdades, a ponto de causar-me profundos dissabores, sim, posso lhe garantir, profundos dissabores - ai de mim! Por outro lado, isso tem suas vantagens: até me ajuda, em certas situações. O pobre inteligente é um observador mais fino que o rico inteligente. O pobre olha em redor, a cada passo; examina, desconfiado, cada palavra das pessoas que vai encontrando; cada passo que ele próprio dá impõe a seu espírito e a seu coração uma tarefa, um dever. Tem ouvido fino, é impressionável, experiente, leva queimaduras na alma...
Curiosidades
Hamsun flertou com o nazismo e, ao final da guerra, foi preso e transferido para uma clínica psiquiátrica e depois para um asilo de velhos. Em 1947, foi julgado e condenado por suas ideias. Mas nada disso desqualifica sua obra.
Relacionamento aberto ou fechado, Ana Flores (compartilho)
Só para me divertir, comecei a fazer uma pequena lista das coisas que acho cafona. E entre ficar de mal com os ex-namorados, usar sandália plataforma, tomar cervejinha na beira da praia e viajar de excursão para o Nordeste, parei num ítem que me foi digno de reflexão. Espalhar aos quatros ventos que tem um relacionamento aberto. Aii...que cafona que é ficar falando isso. O mais engraçado é que o pessoal que faz uso desse discurso se acha ultra moderno. Assim, a Simone e o Sartre já viviam um relacionamento aberto em 1940, então vamos combinar que isso já está mais do que ultrapassado. O último grito é ser discreto, meu bem. Mantenha a discrição e estará sempre elegante e atual.
Mas o que é um relacionamento aberto, afinal? Aberto, o que? O que que fechou? O que é que está aberto? Alguém me explica.
Parece que existem inúmeras formas. Você pode ficar com quem quiser, mas e quero saber de tudo. Ou: Você pode ficar com quem quiser desde que eu não saiba de nada. Essa é boa, né? A pessoa vive numa ilusão só para tentar ser moderninha.Você me fala com quem quer se relacionar e eu aprovo ou não. Esse é aberto pra quem mesmo?! Tem aquele que tem relacionamento aberto mas quase morre de ciúmes. Pra que abrir, então? Tranque todas as portas e seja feliz. Também tem os relacionamentos abertos só de um lado. Do outro lado, portas fechadas. Sim, isso existe, acredite. E ainda, tem a questão do quanto que a porta pode abrir. Só uma frestinha ou portas e janelas sempre escancaradas para arejar? Enfim, cada casal vai criando as suas regras em busca da felicidade.
Para mim a felicidade não está exatamente em um relacionamento aberto ou fechado mas sim no que está por baixo dele. As catedrais estão em pé há centenas de anos porque foram construídas sobre uma sólida estrutura. O tempo e as guerras passaram e elas continuam vivas, estáveis, seguras e majestosas. A paixão, o encanto, a companhia e o desejo são apenas os ornamentos de uma catedral - e eu adoro ornamentos - mas o que está por baixo, é o que realmente vai segurar e manter a estrutura em pé, e isso chama-se amizade.
Se houver amizade, tudo estará bem de verdade. A relação - seja ela aberta, fechada, entreaberta ou trancada com cadeado e senha de 9 dígitos - se manterá viva, estável, segura e majestosa. Com amizade, você pode abrir ou fechar um relacionamento. Pode trancar o coração do seu parceiro a 7 chaves ou escancarar as portas e janelas, que tudo continuará na santa paz de Deus. Simples assim. Só que não vá pensando que amizade é tipo amor a primeira vista. Amizade a primeira vista só existe nos filmes de cachorro da sessão da tarde. Ela deve ser construída a quatro mãos e isso leva algum tempo. E a pergunta que deve ficar é: será que entre eu e o meu namorado ou namorada existe amizade? De verdade? ... Ou será temos apenas os lindos e coloridos ornamentos?
Gostou? Tem muito mais no Blog da Ana. Acesse anamorarte.blogspot.com
segunda-feira, 1 de novembro de 2010
Gopak
se as janelas são tortas
já não olho em linha reta
e o horizonte enviezado
arredonda o meu olhar
já não olho em linha reta
e o horizonte enviezado
arredonda o meu olhar
Reciprocidade, Geraldo Carneiro
o amor
desfaz
a noção
do tempo.
o tempo
desfaz
a noção
do amor.
(influência das ideias soltas dos cabelos ao vento)
desfaz
a noção
do tempo.
o tempo
desfaz
a noção
do amor.
(influência das ideias soltas dos cabelos ao vento)
Doidice, Djavan
É natural
Um vendaval que passa aqui
Mais doidice ali
Ou uma seca que arrasou
Pior é não te ver agora
Aflora vícios
Claras manhãs
Ou tanto mais
que eu possa ter
Nada quer dizer
Se o teu beijo não é meu
Cio chegando
Calor explodindo
Temores rondando o ar
E eu pensando em ti
Me apaixonei?
Talvez, pode ser
Enlouqueci?
Não sei, nunca vi
Preciso sair
Depois que eu descobri
que há você
Nunca mais existi...
Um vendaval que passa aqui
Mais doidice ali
Ou uma seca que arrasou
Pior é não te ver agora
Aflora vícios
Claras manhãs
Ou tanto mais
que eu possa ter
Nada quer dizer
Se o teu beijo não é meu
Cio chegando
Calor explodindo
Temores rondando o ar
E eu pensando em ti
Me apaixonei?
Talvez, pode ser
Enlouqueci?
Não sei, nunca vi
Preciso sair
Depois que eu descobri
que há você
Nunca mais existi...
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